Reflexões – Grupo de Estudos Dirigidos do TPM
Desde janeiro/2011, por convite do Pai Fernando de Ogum, criamos o Grupo de Estudos Dirigidos do TPM. Seguindo as orientações que nos foram dadas, o grupo sempre esteve aberto para todos os médiuns e adeptos da Umbanda, inclusive não frequentadores do nosso Terreiro.
O objetivo do GEPM é estudar a Umbanda com liberdade de escolher os temas e propostas encontradas no universo histórico, literário, teórico e prático da nossa religião. Portanto, nossa limitação é a fronteira do nosso objetivo: a Umbanda. Nosso propósito é motivar nossos irmãos a conhecer, estudar, discernir, analisar, reproduzir e produzir conhecimento que seja facilitador para todos no exercício e no contato com a nossa religião.
O COMENTÁRIO 15 escrito pelo Pai Fernando e publicado no site do Terreiro do Pai Maneco por ser sucinto, claro e sábio, deverá estimular em todos nós algumas reflexões….
Na minha busca, desisti e vi a desistência muitos companheiros no meio do caminho, dentro de uma religião ou filosofia ocultista, em razão de tentar explicar com conceitos religiosos ou filosóficos diferentes, por vezes antagônicos, as práticas da religião ou filosofia em que estávamos abrigados. A primeira coisa que acontece, como ninguém é dono da verdade, é o surgimento das vaidades, depois uma tremenda “mistureba” de conceitos e possibilidades, finalmente, tiramos os pés do chão e vem a mistificação e dessa os conflitos entre os partidários de uma ou outra opinião.
Ninguém deveria entrar para uma religião ou filosofia. Penso hoje que o correto é deixar que ela entre em você.
Com a inigualável sabedoria dos pretos-velhos, o Pai Maneco disse: “magia é desconhecimento”. Então o Pai Fernando explicando, nos conta: …”você coloca um dedo sobre a chama de uma vela e não se queima…. foram as salamandras atuando…”. Isso quer dizer que temos que conhecer as forças espirituais e invisíveis da natureza que atuam na Umbanda (eu disse Umbanda!), exercitando nossas faculdades mediúnicas para estabelecer a comunicação com essas forças e com elas aprender.
Faço aqui uma comparação:
O cientista busca demonstrar o conhecimento tornando-se capaz de reproduzir as condições em que o experimento (objeto do seu estudo) produza o mesmo resultado. Para o médium, o resultado nunca é idêntico, mesmo quando reproduz as mesmas condições. Isto porque o religioso está em uma busca pessoal e íntima pela verdade. A inteiração médium e espírito sempre é única e exclusiva sua manifestação.
O cientista esgota-se em questionamentos críticos e em recursos materiais para isolar a si mesmo com observador, além de estar obrigado a determinar o estado do saber existente sobre o objeto do estudo. Já o médium há que considerar que a manifestação mediúnica em nosso universo físico é determinada por forças e entidades que não estão sobre o nosso controle mental ou desejo. Portanto, os questionamentos críticos para assumir o controle, tendem a bloquear essa comunicação mediúnica e, o estado do saber sobre a mediunidade, não permite a nenhum médium dominar todas as faculdades mediúnicas ou reproduzir uma manifestação idêntica a alguma anteriormente ocorrida.
O cientista deve apresentar resultados que sejam julgados e reconhecidos por iguais na comunidade científica oficial, através da publicação de sua tese firmada com racionalidade objetiva, factual e de absoluta lógica.
O médium na Umbanda deve buscar valores morais que possam ser reconhecidos por todos e em todos os momentos de sua existência.
Havemos de pensar que qualidades intelectuais e acadêmicas são essenciais, mas eu penso que não. Na realidade são apenas auxiliares e se fossem essenciais, não viveríamos um processo de sucessivas encarnações, trazendo habilidades natas para alguma área ou arte, mas esquecendo de todo o resto. Exemplo: habilidade nata para música não vem com a partitura.
O que não se pode esquecer é que banalizamos cada vez mais, principalmente nos meios de comunicação modernos, valores que precisamos aprender e praticar, pois são essenciais para entrarmos em contato com o plano invisível superior, pois são esses valores que as entidades da Umbanda procuram comunicar: o amor, a humildade, a alegria, na paz, a lealdade, a ética, o respeito ao livre arbítrio, a natureza e a solidariedade entre os semelhantes, pois a evolução é conjunta e em todos os níveis vibratórios.
O conhecimento religioso requer muitas vezes a aceitação de fatos e enunciados que não podem ser demonstrados cientificamente. A própria existência de Deus não é um objeto da ciência, mas uma crença, já que não há maneira de demonstrá-la ou negá-la. Alguém pode se crer Umbandista sem crer em Deus, em encarnação e em mediunidade?
A racionalidade religiosa é acima de tudo subjetiva, intuitiva. Contudo, não se pode mistificar. Aprendemos com o Pai Fernando quando diz não aceitar nada que não seja coerente ou sem qualquer lógica. Analogamente, eu diria que os cientistas estudam as estrelas à bilhões de anos luz, usando alguns instrumentos de alta tecnologia e comparando dados, utilizando da coerência (estabelecendo vínculos viáveis e/ou reais com o que já está comprovado) e lógica (demonstrando sua existência). Todavia, assim como os cientistas continuam a bilhões de anos luz das estrelas e de um conhecimento exato e absolutamente comprovado sobre essas, nós Umbandistas também estamos no início e precisamos ser coerentes e lógicos: quem pode melhor passar o conhecimento são as próprias entidades, e se não aceitarmos o que elas nos disserem, se não for coerente e lógico, é melhor deixarmos a Umbanda, pois a comunicação com essas entidades é base de tudo em nossa religião.
Sendo o universo espiritual muito maior, com inúmeras faixas vibratórias e energéticas, com muito mais vida que nosso universo físico, não se pode, por pretensiosa vaidade, deixar que a idiossincrasia cultural ou mesmo de um grupo, estabeleça para os demais uma definição perfeita e definitiva. Entretanto, nosso Terreiro é uma estrada construída pelas entidades. Esta estrada segue em direção aos recursos do universo espiritual. Nosso Pai de Santo assumiu junto as entidades superiores a responsabilidade de dar o ritmo da caminhada, indicar como devemos nos comportar, antever os perigos pelos quais passaremos e nos ajudar quando estamos machucados ou doentes. Cada um de nós deve silenciosamente caminhar, observando os dias e as noites, as pedras e buracos, pois eles vão permanecer onde estão e serão sempre as orientações do caminho. Se nos apressarmos poderemos tropeçar e ficarmos para traz, pois há uma multidão de caminhantes no ritmo da caminhada. Cada um dos caminhantes, em algum momento, será convocado pelo Pai de Santo a auxiliar com aquilo que esta aprendendo. Será preciso conhecer paciência até estar preparado e isso vai acontecer com todos.
Penso ainda na contribuição de todas as religiões na formação da Umbanda, especialmente no sincretismo. É como se construíssemos uma casa sem teto, mas com várias janelas para cada uma das outras religiões e cada uma tivesse um vidro de cor diferente por onde a luz do sol, às vezes no amanhecer e outras vezes no crepúsculo se infiltrasse. Contudo, a porta de entrada e saída da casa estaria sempre aberta e lá dentro da casa, a luz do Sol no seu ponto mais alto, incidindo diretamente e deixando permanente uma única cor iluminando: a cor branca da Umbanda.
Religião significa “religação com o divino”. A Umbanda nasceu no Brasil, nasceu com a natureza destas terras que abrigou as misturas das raças, cores, sons, movimentos e sabores que somente aqui existem em profunda religação com Deus.
Finalmente, transcrevo um trecho do: KARMA – Um estudo, de “Annie Bessant” (teosofista) e logo abaixo uma poema inicial desse estudo: … deve aprender a ver no karma uma lei universal da natureza, e aprender também, em face à natureza como um todo, que só se pode conquistá-la e governá-la obedecendo-a. “A Natureza é conquistada pela obediência”.
Karma
Extraído de A Luz da Ásia, de Sir Edwin Arnold
Ele não conhece nem ira nem perdão; completa verdade
É o que mede sua vara, é o que pesa sua balança infalível;
O tempo não conta; julgará amanhã,
Ou depois de muitos dias.
Assim o punhal do assassino golpeará ele mesmo;
O juiz injusto perderá seu próprio defensor;
A língua enganosa vitupera sua própria mentira;
O ladrão sorrateiro e o solerte larápio roubam, só para devolver.
Esta é a Lei que conduz à justiça,
A qual ninguém pode fugir ou arrostar;
Seu coração é Amor, o seu fim
É doce Paz e Consumação.
Obedecei!
Paulo Braz – 22/09/2011
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