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Pai Edmundo Ferro

Saravá Pai Fernando:

Quando o Senhor me pediu para fazer um relato sobre a incorporação que tive de Seu Edmundo Ferro, na gira de segunda feira,
fiquei um pouco apreensivo. Como poderia escrever sobre um assunto que pouco sei.
Sempre que me proponho a escrever, escrevo simplismente o que sinto. Sem qualidade alguma.
Infelizmente não tenho, quem sabe um dia, a capacidade e o dom de produzir um bom texto.
Basta eu ler uma linha do mestre Ruben Fonseca, para abandonar a idéia e nem salvar meu arquivo.
“Matar a velha, não a crueldade, como disse o poeta, mas a força do meu ato e não apenas da minha imaginação foi a impulsão que fará de mim um verdadeiro escritor.
Tenho, agora, o começo, tenho o meio e o fim.”

Já que um dia sonhei em ser jogador de futebol e acabei apenas torcendo na arquibancada, quis ser o comandante do voo e agora me contento com a poltrona apertada e a barrinha de cereal,
resolvi encarar esse desafio pessoal e escrever sob encomenda.
Dessa maneira, acredito que minha outra frustração, ser escritor, ficará esquecida por um tempo.

Avô é Pai duas vezes

O ponto de Ogum Naruê era cantado por todas as vozes. A alegria e o amor tomavam conta das minhas idéias, afinal, eu já tinha me purificado, tocando na Coroa do “coroa”.
Como de costume, mantive a minha concentração, apesar de toda a emoção que sentia. Como medium do TPM, sei de minha responsabilidade. Aprendi, depois de anos de trabalho,
que numa corrente de Fé e Força, como é a do Seu Akuan, o instinto e a entrega são essenciais para que os espíritos possam trazer suas mensagens de luz.

Quando senti a primeira vibração da entidade, pensei se tratar do Ogum que sirvo. Forte. Cheio de vida. Engano de um iniciante.
Ogum chega e toma conta. É Orixá. Sempre me coloca no meu lugar e comanda.
E Ogum vem sempre em ordem com sua falange. Além do mais eu não ouvi o Seu Akuan chamando ninguém.

Continuei vibrando na energia da entidade. Nunca duvidei das minhas incorporações. Desde o inicio, sabia sim, que poderia e deveria melhorar a terceira energia. Mas nunca duvidei.
Dúvidas, definitivamente não combinam com a minha segunda feira. Prefiro deixá-las pra terça.
– Não é Ogum. – pensei, para pouco depois não pensar em mais nada.
Contrariando minha própria experiência como médium, pouco vi. O que escrevo aqui, é a minha verdade.

Minhas mãos ficaram dormentes. Minha visão escureceu. Não conseguia me movimentar como de costume.
Lembro que ouvi alguém pedindo para que Ele desencorporasse, pois já estava na hora de subir. Ele não gostou.
– Sempre fui o ultimo a ir embora – pensou.

Sentia um energia muito forte. Uma força muscular.
A cabeça curvada, como se Ele estivesse apertado, aqui dentro da casca.
E Ele é grande. Só de me pegar já me saravou por inteiro.

Não tinha certeza que espírito era. Somente após o encerramento da gira que me foi confirado.
Senti um espírito bravo, austero, mas amável. Lembra meu avô. Um ótimo sujeito. Mas como era rígido meu nono. Ele e os seus princípios.

Bastou o Pai Tinga o reconhecer, para que sentimentos explodissem no meu peito.
Alegria de estar ali presente e poder abraçar seu filho querido. Gratidão por ver o seu Terreiro tão lindo e cheio de luz e gente.
– O que seria de um Terreiro sem luz e sem gente? pensou
– Saravá nosso Terreiro – respondi prontamente
– Saravá a Umbanda filho – sentenciou como uma ordem.

Um abraço forte e verdadeiro, reservado aos que muito bem se conhecem, encerrou aquela noite especial.
– Eu não podia deixar de estar aqui hoje – falou baixo – seguido de um beijo paternal.
Naquela segunda feira todo mundo estava ali.
Isso foi Ele que disse, antes de ir embora batendo a cabeça e resmungando:
– Vou embora porque esse cavalo ainda é muito pequeno e já não pode mais comigo. Saravá meu filho. Obrigado.

Saravá mestre Edmundo Ferro. Obrigado.
Saravá nossa Umbanda.

Marcio Belle

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