Crianças na Gira, Sim ou Não?
Escrever um texto é uma proposta legal, mas ao mesmo tempo desafiadora, já que as palavras ficarão registradas eternamente (digo eternamente, pois os sites de busca disponíveis atualmente registram coisas que nem nos lembramos). Mas vamos lá, vou me propor a escrever texto sobre crianças na Umbanda e quem sabe daqui uns anos fazendo a releitura deste texto eu tenha mudado de opinião.
Muitas pessoas não entendem o motivo de não levar as crianças para a gira, outras pessoas acham natural que os pimpolhos participem “de branco”. Respeito todas as opiniões, mas como eu estou escrevendo este texto, vou deixar aminha opinião.
Quando eu era criança, o terreiro era na Faculdade Espírita e como nem todos sabem, o começo do Terreiro do Pai Maneco não foi assim tão tranquilo como é hoje. Talvez pela época em que iniciaram os trabalhos. Nosso desconhecimento com eles, deles conosco. Sei lá. Só sei que este não é assunto para mim. Aliás, lanço a ideia para a Mãe Lucilia escrever sobre isto.
Mas o Pai Fernando nem sempre permitia que frequentássemos as giras. Obviamente que esta proibição despertava uma curiosidade absurda, mas sempre respeitamos a ordem do chefe da família.
Quando ele autorizava, estávamos todos nós lá, unindo os bancos compridos de madeira e fazendo a nossa gira paralelamente. Nossa gira era na assistência, imitávamos tudo o que acontecia lá dentro. Aliás, a brincadeira se estendia para nossas casas, já que era comum encontros na casa do vô onde cada neto tinha uma função, um pegava a planta suculenta e riscava seu “ponto” no chão, o outro pegava o sininho para tocar o “adejá” e assim íamos fazendo a nossa parte.
Relato estes acontecimentos porque eu não acho que a Umbanda deve ser encarada pelas crianças com a seriedade que uma gira precisa. É claro que quando me reporto à crianças, não digo crianças que dependam exclusivamente dos seus pais, refiro-me aquelas que tem discernimento e que podem optar por entrar ou não em uma gira.
A minha singela opinião é de que cada fase deve ser respeitada naturalmente, assim como a gira deve ser encarada com a responsabilidade que uma pessoa precisa em saber que aquilo ali não é apenas um ponto de encontro, é um local sagrado, que demanda concentração, energia, responsabilidade, o que nem sempre faz parte das características das crianças, as quais estão em pleno desenvolvimento e amadurecimento.
Também acho curioso o fato dos pais baterem na tecla de que seus filhos querem muito entrar na gira, tentando nos convencer de que a regra deva ser mudada só para a satisfação própria.
Antes que pareça um pouco antipático, enfatizo o fato de que sim, eu frequentava o terreiro quando pequena, mas não havia a obrigação de estar na gira, é isto que eu quero que os pais pensem. Nem sempre a melhor opção é o seu filho estar lá dentro da gira participando de branco, o que muitas vezes não transmite a real responsabilidade de estar ali dentro.
Criança deve estar no Terreiro sim, mas não precisa estar na gira para aprender nosso ritual, respeitar nossas entidades. Nós é que precisamos respeitar os horários deles, a rotina de sono, da brincadeira.
Ontem era uma criança, hoje faço 29 anos. Saravá!
Mãe Camila de Iemanjá
Saravá Mãe, obrigado pelo texto me ajudou muito
Pai Nelson, terreiro http://www.irmaofrancisco.com.br
Mãe Camila, parabéns pela emoção e racionalidade do texto, acredito que fluxo de pessoas no local no começo era diferente, o que hoje requer o acompanhamento de perto dos pais, visto que o terreiro do Pai Maneco tem um estacionamento enorme e muitas vezes pais estão não gira e as crianças soltas brincando de esconde esconde entre os carros.Não tenho filhos, mas acho que eu não conseguiria me concentrar em um trabalho espiritual, sem saber por onde andam meus filhos.A assistência merece nossa maior concentração possível.