A Pedreira do Paulo
Paulo Leminski, brilhante poeta paranaense, parceiro do Raulzito, o Seixas, merece a justa homenagem de ver seu nome num dos mais belos espaços de Curitiba. Antigo local onde se detonava dinamite para explodir as rochas e tirar a brita, hoje explode apenas de alegria. Neste domingo, participamos de mais uma detonação, uma das maiores, uma grande explosão, desta vez de emoção. Emoção do princípio ao fim. Pedir licença ao Paulo para servir-se daquele espaço encantado foi emoção pura. Mãe Lucília dirigindo-se a ele, ali ao seu lado em espírito e poesia, olhos rasos d´agua, contagiou a todos. O que se viu então foi uma transferência de propriedade, o Paulo neste momento passando a posse da pedreira ao Pai Maneco. A pedreira do Paulo? Não, não era mais do Paulo. Agora era nossa, do Pai Maneco e de seus filhos, todos ali ávidos para dar nele um abraço, o abraço do dia dos pais, um abraço no nosso grande pai, o Maneco. Emoção a flor da pele, coração na boca, lacrimais a toda, ninguém segurava. Não dava mesmo, nem era para isso. Era para explodir mesmo, transbordar, ultrapassar a barreira da emoção muitas vezes contida, se entregar e penetrar no olho do furacão, turbilhão de sentimentos e vontades. Vontade de estar ali, vontade de ser mais, mais espírito, mais sentimento, mas harmonia, mais felicidade, mais comunhão, mais compaixão, mais irmão. Esses, os sentimentos do Pai Maneco invadindo aqueles que ali professavam sua fé. Era ele, o negro Maneco abraçando seus filhos, todos ao mesmo tempo, num terno e longo abraço de três horas que ninguém viu passar. Pensamos em abraçá-lo, queríamos abraçá-lo, mas ele, ladino, se antecipou e nos abraçou primeiro, mais uma vez, como tantas ele já fez, muitas delas nem percebidas. Um abraço que nada, um detonador de amor em nossos corações. Então, já bem no finalzinho, surge aquele gavião, vem do lado direito do céu, lentamente cruza ziguezagueando até chegar ao lado esquerdo e desaparecendo ao fundo do verde da floresta. Estava chegando ao fim e o laço apertado do abraço ia se afrouxando. Era o Pai Maneco devolvendo a posse ao Paulo e o Senhor Akuan, que até então voava no céu cuidando da segurança de tudo e de todos, partia com sua ave de rapina rumo ao infinito. De repente, a melancolia, o desejo que aquele momento de três horas não terminasse nunca, que aquela emoção durasse para sempre. Mãe Lucília, atendendo ao pedido de outro Pai, o João, encerra o trabalho com samba, para que todos, carregados com a energia e alegria daquele ritmo, levassem para suas casas a felicidade daquele momento e dividissem com os seus o abraço do Pai Maneco. Como que me despedindo encarei a pedreira, procurei as pedras, mas não enxerguei nenhuma. Lembrava daquela pedreira de antigamente, paredões imensos de pedra, mas agora não via nada, apenas mato, árvores, vida em forma vegetal. Meu Deus, as árvores cresceram na pedra, não é possível!! – exclamei confuso. Uma floresta sobre pedras verticais. Neste instante compreendi o sentido daquilo, daquele trabalho de Xango e Pretos e de Pretos de Xango: deixemos crescer o amor em nossos corações, tal qual árvores que crescem e florescem em pedras não importando se nosso coração foi um dia invadido por sentimentos ruins. Hoje ele explodiu. Foi dinamitado pelo Pai Maneco que trouxe para a pedreira do Paulo o detonador. Não nos preocupemos, a natureza trará de volta a árvore do amor mesmo que nossos corações estejam ainda empedrados.
Axé
Pai Caco de Xango
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