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SOBRE A FÉ – POR BRUNA CABRAL

“A fe´na Umbanda, acende a vela que ilumina…”

Como uma boa filha de Ogum, sou bem teimosa. Digamos que eu gosto de ter certeza de tudo. Gosto de confirmações. Quer me ver doida, é me dar um recado nas entrelinhas. Por favor, fala claro comigo!

Graças a Deus, meus guias me entendem e me esfregam na cara tudo que eu preciso, me esculacham e me ajudam muito! Vou dar uns exemplos bacanas que guardo comigo.

Numa noite sonhei com um amigo. Encontrei ele numa avenida que ficava sobre o mar, ele de um lado da pista e eu do outro. Ele me viu e me deu a mão. De mãos dadas, juntamos as avenidas e sentamos um de frente para o outro, com os pés batendo na água.

Ele me apertou as mãos e disse: “Como anda essa cabeça minha filha?”. Respondi a ele de forma escrachada: “Zoada!”. Ele riu e disse: “Vamo coloca essa cabeça no lugar?”. Balancei a cabeça concordando que sim e depois disso não lembro de mais nada.

Nem uma semana depois, sento na frente do Seu Marabô, ele me olha bem no olho e me pergunta: “Como anda essa cabeça minha filha?”. Gelei. Respondi com uma palavra que não lembro bem, de verdade, mas foi algo parecido. E ele completa: “Vamo coloca essa cabeça no lugar?”. Queria morrer de chorar, né!? Para completar, ele me manda fazer um amalá para Iemanjá.

Passado um tempo, numa sequência de giras, eu estava com uma baita dificuldade nas incorporações, para seguir com o trabalho no toco. Comecei a ficar receosa com a responsabilidade, as dúvidas de até quando sou eu e até onde vai meu guia, será que está tudo certo?

Dúvidas, medo e o resultado: eu não conseguia dar espaço para os guias virem trabalhar e passei algumas giras sem dar consulta ou deixando eles virem “tarde” para o trabalho.

Até que em uma gira de esquerda, estava lá eu: brigando com a vinda do espírito. Com auxílio do pessoal do meio, o Exu com quem trabalho chegou meio brabo, diga-se de passagem. Acho que não é porque eles não são mais de carne e osso, que não passam emoções também. Eu pelo menos sinto algumas mudanças.

Bom, voltando. Ele chegou e disse que tinha que acabar essa “bagunça”. Queria que eu, a cada gira, fizesse um amalá aos meus guias que eu trabalharia no dia. Que não deveria ser um banquete, mas sim uma entrega simples e bem-feita.

Para cada um, uma vela e dois elementos do guia. Três coisas simples e entregues com o coração. Disse que era para que pudéssemos unir nossas energias, para que eu reascendesse minha fé. Se eu não conseguia ter fé e confiar nos meus guias, como poderia trabalhar com eles?

Certo, a cada gira uma pequena entrega. A primeira para os caboclos de Ogum, Oxóssi e Xangô. Na sequência, Ogum, ciganos, boiadeiros, oriente, marinheiros. Ogum, pretos e crianças. Ogum e esquerda…

Não posso negar que realmente senti uma baita melhora! A cada vela acesa uma nova esperança de melhor conexão com aqueles que tanto ficam ao meu lado. Uma certeza e a entrega de que eles sabem o que é melhor para mim e o que a corrente precisa a cada gira. Fui me entregando e confiando. Aumentando minha fé!
Ao final do ciclo, estava lá eu de novo, vendo a gira de exu alheia. Seu Marabô me viu e veio me cumprimentar. Me emocionei como sempre e agradeci por ele cuidar de mim. Ele me respondeu: “Não filha, sou eu que agradeço. Agradeço pela sua fé! Não perca sua fé, pois é com ela que podemos continuar aqui trabalhando. Obrigado por confiar.”
“Oh meu pai! Eu sei que o Senhor anda comigo e, sentir tua presença me acalenta, me alimenta e me emociona. Perdoe a sua filha nas falhas, no medo e na dúvida. Eu sinto o cuidado que tens comigo, me emociono cada vez que o sinto ao meu lado e a cada abraço e cumprimento que recebo. A fé que falta, é mais em mim mesma. Mas em vocês, minha fé nunca vai acabar. Gratidão por estar sempre ao meu lado e agradeço até, por estar aqui rindo de mim, enquanto termino esse relato chorando (e rindo) de emoção, porque sei que está por aqui. ”
Saravá meu pai!!!
Bruna Cabral
Da gira da Mãe Lucília

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