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VISÃO – Por Guilherme Souza e Franciele Schmidt

As vestimentas dos médiuns e o branco.

Dentre os princípios da Umbanda, um dos elementos de grande significância e fundamento, é o uso da roupa branca.
No decorrer de toda a história da Humanidade, a cor branca aparece como um dos maiores símbolos de unidade e fraternidade já utilizados. Nas antigas ordens religiosas do continente asiático, encontramos a citada cor como representação de elevada sabedoria e alto grau de espiritualidade superior. As ordens iniciáticas utilizavam insígnias de cor branca; os brâmanes tinham como símbolo o Branco, que se exteriorizava em seus vestuário e estandartes. Os antigos druidas tinham na cor branca um de seus principais elos do material para o espiritual, do tangível para o intangível. Os Magos Brancos da antiga Índia eram assim chamados porque utilizavam a magia para fins positivos, e também porque suas vestes sacerdotais eram constituídas de túnicas e capuzes brancos. O próprio Cristo Jesus, ao tempo de sua missão terrena, utilizava túnicas de tecido branco nas peregrinações e pregações que fazia. Nas guerras, quando os adversários, oprimidos pelo cansaço e perdas humanas, se despojavam de comportamentos irracionais e manifestavam sincera intenção de encerrarem a contenda, o que faziam? Desfraldavam bandeiras brancas! O que falar então do vestuário dos profissionais das diversas áreas de saúde. Médicos, enfermeiros, dentistas etc.,
Em 16 de novembro de 1908, data da anunciação da Umbanda no plano físico e também ocasião em que foi fundado o primeiro templo de Umbanda, Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, o espírito Caboclo das Sete Encruzilhadas, entidade anunciadora da nova religião, ao fixar as bases e diretrizes do segmento religioso, expôs, dentre outras coisas, que todos os sacerdotes (médiuns) utilizariam roupas brancas e de tecidos simples. Mas, por quê da cor branca na Umbanda?
A roupa branca transmite a sensação de assepsia, calma, paz espiritual, serenidade e outros valores de elevada estirpe. As cores brancas contem dentro de si todas as demais cores existentes. A roupa branca usada pelos médiuns, não dará oportunidade às pessoas que adentram um terreiro, de saber qual o nível social, cultural, intelectual dos médiuns que fazem parte do mesmo, pois o branco significa IGUALDADE. Essa roupa branca, é a vestimenta para a qual devemos dispensar muito carinho e cuidado. Devem ser conservadas limpas, bem cuidadas, devem estar sempre longe do contato direto com as forças deletérias, devem estar dentro do vestiário do terreiro ou em casa sendo lavadas. Quando essas roupas ficam velhas, estragadas, jamais deve-se jogar fora ou dar, deverá ser despachada, pois trata-se de um instrumento de trabalho do médium.
Aos médiuns recomenda-se não ir ao terreiro vestido com roupas de casa, que não sejam as suas roupas brancas, pois ao trabalhar sem o banho e com roupas do cotidiano, tanto o médium quanto as roupas estão impregnados de cargas fluídico-magnéticas negativas, que por consequência interferem no campo áurico e perispiritual do médium. Portanto, tomar o banho e vestir as roupas brancas é de grande importância.

PANO DE CABEÇA

O ato de bater cabeça, talvez seja a parte da ritualística umbandista cuja simbologia esteja no inconsciente coletivo da humanidade desde o princípio dos tempos.
Seu significado pode ser interpretado como (reconhecimento) da submissão do ser humano diante da onipotência da deidade, muitas vezes representada através de fenômenos da Natureza, ou seja, a aceitação de nossas limitações diante daquilo que não podemos controlar. Trata-se, portanto, de um sinal de respeito e de entrega.
Também pode ser entendido como representação de humildade, bem como uma forma de agradecimento (exemplo: a Mãe-Terra que, através de seus mistérios, nos dá tudo o que nos sustenta e mantém).
Pode-se, então, dizer que na Umbanda bater cabeça significa respeito pela deidade, orixás, guias e entidades que são representadas tanto pelo congá, como por pontos de força ou energia (a tronqueira e os atabaques), e ainda nas figuras do Pai/Mãe de Santo ou mais velhos na religião.
No terreiro do Pai Maneco ao bater a cabeça se usa o pano de cabeça que serve para proteger e imantar as guias com os pedidos durante o ato de bater cabeça.
Cada médium obtém seu pano de cabeça após o ritual de entrada na corrente conhecido por Amaci, este ritual é a abertura da espiritualidade e entrada do médium na umbanda.
PONTO RISCADO

Um dos fundamentos da Umbanda se encontra no chamado ponto riscado, que tem em sua estrutura os desenhos dos elementos, objetos e vibrações necessárias para o feitio de um trabalho, sendo que cada risco feito na tábua de ponto tem o seu por quê.
O ponto é fundamental no trabalho umbandista, já que ele direciona para a energia necessária para a concretização da demanda criando um elo com o plano espiritual que emana energias, fluídos e vibrações e é utilizado também como forma de proteção da casa, além de identificar a entidade que riscou o ponto – não que as entidades necessitem riscar o mesmo ponto todas as vezes, já que nem sempre as energias evocadas são as mesmas para todos trabalho.
O ponto é riscado pela pemba, que consiste num giz de calcário em forma oval existente em várias cores, no Terreiro do Pai Maneco a cor da pemba fica, desde que autorizadas pelos Pais/Mães de Santo da gira, de acordo com a vontade das entidades
A Pemba é um instrumento de luz essencial em qualquer trabalho de Umbanda. Também é comum se falar em “Lei da Pemba” para referir-se à Umbanda. A expressão “Filhos de Pemba” é utilizada para identificar os filhos de Umbanda, aqueles que estão cumprindo as diretrizes de Aruanda.
Para homenagear esse instrumento sagrado, segue o ponto cantado na abertura de todos os trabalhos de Umbanda:

“Ô salve a Pemba”!
Também salve a toalha!
Ô salve a Pemba!
Também salve a toalha!
Salve a coroa,
É de nosso Zambi é o maior!
Salve a coroa!
É de nosso Zambi é o maior!”

 

MELANI, Roberto Di Luca; SADE, Samantha (org.); Umbanda para a Vida: Primeira leitura dos Fundamentos Umbandistas, 2007

Disponível em:
http://misteriosumbanda.blogspot.com.br/2011/04/o-ato-de-bater-cabeca.html acesso em 10/09/2012
http://www.paimaneco.org.br/leitura/livros/grifos-do-passado/ acesso em 10/09/2012
http://espiritualizandocomaumbanda.blogspot.com.br/search/label/Roupa%20… acesso em 10/09/2012

SIGNIFICADOS DA DANÇAS NA RELIGIÃO UMBANDA
Por Izabel Cristina dos Santos

A Dança dos Caboclos
Na umbanda a dança está presente na maioria dos trabalhos espirituais, o que causa questionamentos e interpretações diferenciadas por parte da população. Algumas justificativas podem ser explicadas a partir da cultura afra, pois tanto o candomblé quanto a umbanda remetem diretamente a história dos povos afro-brasileiros que tem na dança e na música uma forte representação cultural. Neste sentido, pode-se dizer que estes códigos são registros formais de um saber que são representados somente pelas vozes do corpo e do gesto. Muitos aspectos dessa integração podem ser percebidos no toque do atabaque, que é o chamamento das entidades para a corrente do ritual. Com raízes africanas, a Umbanda também se popularizou entre os brasileiros, aliando práticas de diversos credos, entre eles o catolicismo. Esta religião originou-se no Rio de Janeiro, no início do século XX, e incorpora em seus ritos, o toque do atabaque (tambor) e movimentos corporais que se identificam como dança. A dança afro-brasileira compõe-se de um conjunto de diferentes danças e dramatizações, que apresentam características em comum a raiz africana. Recriada no Brasil, em diversos períodos e regiões, esta herança foi conquistando novos significados e expressões, ou seja, como toda cultura, foi se resinificando no decorrer do tempo. Um dos exemplos mais conhecidos que conquistou vários países é a capoeira, que pode ser considerada rica em expressão cultural e artística e faz parte da cultura afro-brasileira. Ela é uma mistura de arte-marcial, esporte, cultura popular e música. O berimbau é o instrumento musical que abre e fecha uma roda de capoeira. As danças são manifestações em cultos e rituais religiosos das mais variadas vertentes. É através dela que na Umbanda podem-se identificar algumas entidades. As danças dos orixás são executadas sob um ritmo específico para as divindades africanas e cada uma terá traços coreográficos próprios. Nas religiões cristãs e nas suas diferentes manifestações contemporâneas também encontramos a dança como maneira de expressar, louvar e reverenciar a Deus. A comunicação com o astral, com o mundo espiritual está diretamente relacionada com a energia que o corpo atrai ou libera. Essas expressões corporais dão origem a uma cápsula de força que se estende pelos terreiros. É através desta energia que o homem entra em contato com o espaço sagrado e realiza suas manifestações religiosas através dos cultos. Como pontos importantes do trabalho devem-se ressaltar a dança, a comunicação e a música, pois é através destas que a arte na umbanda se concretiza. A dança é um fator fundamental para o recebimento das entidades. Da mesma maneira que o preto velho orienta sobre as angustias com suas histórias de encarnações passadas, outros guias e orixás se manifestam enviando as suas histórias contadas através da dança. As coreografias das danças dos orixás remetem à mitologia de cada um, representando seus feitos, suas características individuais e suas histórias. Os rituais da umbanda correspondem a uma forma de oração corporal, ou ainda uma prece em movimento. Ainda na dança umbandista, concretiza-se o fenômeno mediúnico no movimento. Fato que ocorre na dança ritualística, onde o médium comunica corporalmente seu estado de transe e deixa manifestar-se o outro espiritual que naquele momento apodera-se, mesmo que parcialmente, em sua mente. O médium libera a energia pelo seu guia e o círculo feito durante a dança afasta tudo que se refere ao mundo exterior. Concentra-se ali apenas o que é espiritual e divino, sucedendo então, a união do sagrado com o profano. Os povos ou tribos africanas, de onde é procedente a grande maioria dos orixás e possivelmente outras entidades como pretos velhos e caboclos, não dominavam a escrita, e por consequência disto, inserem na dança um meio de preservação das tradições religiosas e culturais. A dança ritualística da umbanda não é só expressão corporal, sua função também é transmitir informações míticas sobre a entidade. Desta forma, ela integra aspectos sociais, espirituais e cósmicos. Desta forma, utiliza-se de movimentos que expressam suas tradições, o contato como mundo espiritual e a alteração da consciência. Entre as manifestações por dança a apresentação de:

Ogum: vem representando a ordem, a segurança, a firmeza. Ele vem pedir licença para percorrer os caminhos, determina a ordem. O movimento na dança representada pelos movimentos das “mãos cortando de um lado para o outro”. Simboliza a sua ESPADA , no sentido de cortada todas as demandas, a espada é a Lei, a ordem, com os braços erguidos mostra a sua autoridade a sua importância na segurança e bom andamento da gira e dos trabalhos.

Oxossi: Representado na Umbanda pelos Caboclos. Oxóssi e Caboclos usam a dança como elemento de magia fazendo com os braços, movimentos de Arco-flecha, girando em círculos, significa a busca em todos os sentidos, eles dançam, eles caçam eles fazem a magia na sua dança, são ligeiros e ágeis. Realizando assim a limpeza, do local e das pessoas, colocando ordem e disciplina.

Xangô: Também são Caboclos e sua dança vem nós ensinar a força, a autoridade, o cruzamento a frente do peito com os braços forma o que representa o Xangô ou seja o seu machado que significa os dois lados, o equilíbrio, a justiça a aplicação dessa justiça e a lei Divina

Oxum: Ela reproduz na sua dança toda magia do Amor, o amor incondicional, o amor no seu sentido pleno, ventre, o feminino, amor maternal, a sensualidade sem ser vulgar, a beleza, a luz. O domínio das águas doce e o amor. Seus passos ijexa (movimentos), são miúdos, lentos delicados, os braços de oxum conduzem o ritmo do seu corpo, como se fosse puxada de remos, ela reproduz igualmente a sensualidade mexendo seus ombros, Orixá da beleza do encantamento também dança batendo a barra da saia, como olha a procura da sua imagem no espelho das águas.

Iemanjá: Sua dança é suave, imitando os movimentos das ondas do mar. Quando se manifesta emite sons, que lembra o mar, as ondas, simulando movimentos como se estivesse se banhando nas água e mergulhos. É também característico da sua dança, levar as mãos ao “ORI“ do médium, ou seja, “CABEÇA”, ela que é chamada da “MÃE DAS CABEÇAS”, DONA do ORI“. Em sua dança Iemanjá não faz movimentos grandes, embora tenha bastante vivacidade afastando para trás e para frente os braços como representando o seu Reino, as águas, no gestual das mãos mostrando sempre ternura e amor de mãe. Fazendo a limpeza com seus movimentos simples, mas constantes.

Iansã: Sua dança, sua música (ponto), é característico por grande rapidez, agressividade, determinação, e grande virilidade, percebe-se assim a personalidade, ou melhor, a característica do Orixá embora expresse o Elemento “AR” em movimento. O uso da polirritmia no toque tira a possibilidade de encontrar uma pausa no ritmo e dá ao toque a sensação de tirar os pés do chão. A dança de Iansã, os passos são pequenos e rápidos, enquanto o braço movimenta-se com força afastando qualquer um da sua frente (eguns).
Iansã, movimenta pelo terreiro, anda sem meta precisa (para nós), mas seu andar, seu bailar, a procura de algo ou alguém, pode parecer quase desesperada nesse seu andar com tanta energia. Iansã uma Orixá jovem e guerreira, que abre caminhos junto com Ogum lutando e limpando as marcas (energias) dos eguns. Interessante observar que as danças esta extáticas rodam em sentido anti-horário, esta direção é tomada ou quase todas as danças sagradas.
A dança em forma de Espiral é o símbolo da comunicação entre o médium e a energia do Orixá que penetra no corpo. Representa o ar, energia vital, e as lendas contam o seu papel e a sua autoridade com os Espíritos dos mortos, que transporta e encaminha aos outros Orixás.

Outra forma de arte importante na religião umbanda é a música. É através dela que ocorre a conexão do homem com o meio sagrado. Ela é fundamental nas religiões afro-brasileiras, pois é através do canto das pessoas e dos médiuns, que as mesmas recebem as entidades. Relacionado a música e dança, está o atabaque. Ele é um instrumento musical de percussão, o qual é constituído de um tambor cilíndrico ou cônico, com uma das bocas coberta de couro geralmente de boi ou bode. É considerado a chave da conexão entre o espaço sagrado e o profano, onde o som é a chamada das entidades, para as mesmas se manifestarem nos terreiros. O atabaque ainda tem a função de alegrar e estabilizar a corrente de uma forma continua, até que o culto termine. A música e a dança são linguagens privilegiadas na própria religião onde os deuses vêm à terra para dançar invocados pelas músicas, apresentando grande número de expressões artísticas da cultura brasileira. De modo geral, a arte religiosa tem como objetivo promover, em uma pessoa ou grupo religioso, sentimentos de arrependimento, piedade, fervor, reverência e envolvimento em cerimônias ou práticas religiosas. A dança constitui-se numa forma de manter forte a ligação entre os homens e seus deuses, transcendendo a existência dos primeiros para um universo idealizado.

REFERÊNCIAS.
DANÇA Afro-brasileira Um pouco de história. Disponível em: <http://umbandatemfundamento-textos.blogspot.com.br/p/danca.html>.
A arte nos rituais da umbanda-Disponível em:
<http://www.webartigos.com/artigos/a-arte-nos-rituais-da umbanda/63584/#ixzz2ecwzow68>. Acesso em: 11 set. 2013. A Dança na Umbanda – Disponível em: <http://wikidanca.net/wiki/index. php/a_dan%c3%a7a_na_umbanda>. Acesso em: 06 set. 2013.

As Danças Africanas
As danças africanas integram a extensa cultura do continente e representam uma das muitas maneiras de comunicação cultural.
São realizadas em ocasiões importantes para cerimônias em rituais de passagem, nascimento, casamento, morte, colheita, guerra, alegria, tristeza, exorcismo, doenças e agradecimentos.
Entre os pontos comuns na dança da maioria dos povos africanos estão a organização em círculos, semicírculos ou fileiras, com a participação de todos, independentes da idade ou escala social na comunidade.
A dança é acompanhada pelo som de instrumentos de percussão e batuques de tambores.
Do estilo africano de manifestar a dança evoluíram ritmos hoje bastante conhecidos pelo brasileiro, como a capoeira e o próprio samba
A dança também é uma importante fonte de conexão religiosa em que o corpo é o instrumento de ligação com o mundo dos espíritos, na visão da maioria dos povos africanos.
Há a crença de que, dependendo do ritual, a dança deve ser executada com os pés descalços para promover a ligação do espírito com a Terra. O ritmo é considerado elemento de passagem para o mundo espiritual para onde o participante é levado após um transe.
Entre os muitos ritmos de raiz africano, podem ser destacados:

O ahouach é dançado coletivamente ao ritmo de berbere e representa a unidade da comunidade. A coreografia é executada com o sacolejo dos corpos de bailarinos que carregam pesadas joias talhadas em padra e âmbar.
O acompanhamento é feito por instrumentos como flautas e tambores confeccionados em pele de cabra. Em geral, é executada no centro e no sul da África.
Guedra
Comum no Marrocos, o guedra é caracterizado pelo toque de tambores a embalar bailarinos trajados de azul e branco.
Schikatt
Também de origem marroquina, o schikatt é semelhante à dança flamenca. Nesse ritmo, os bailarinos revelam movimentos com influência oriental e árabe.
Adornadas de véus coloridos que cobrem todo o corpo, as bailarinas também se cobrem de joias enquanto balançam sob o som de palmas e instrumentos de percussão. Essa é a dança erótica da mulher do Marrocos.
Gnawa
O gnawa é uma dança ritualística que marca a passagem de um mundo para outro. Vestidos de branco, os bailarinos simulam a presença do deus Hadra, que é trazido para a Terra. Sob o som de tambores e palmas, são executados movimentos acrobáticos.

Kizomba
O kizomba está entre os ritmos que mais demonstram a dinâmica intercultural das danças africanas. Ganhou adeptos no Brasil e, principalmente, Portugal, com várias academias de dança especializadas em ensinar o ritmo aos europeus.
Essa dança celebra a felicidade, a confraternização. Oriundo de Angola, o kizomba espalhou-se por todo o continente africano. Exibindo movimentos suaves e rítmicos, é cantada em crioulo e português.

Semba
Também de influência angolana, o semba é dançado em pares e tem a finalidade de divertir. É dançado em festas e confraternizações, onde os bailarinos se colocam em pares e executam passos marcados por sensualidade e malabarismo.

Danças indígenas do Brasil
O índio dança para celebrar atos, fatos e feitos relativos à vida e aos costumes. Dançam enquanto preparam a guerra; quando voltam dela; para celebrar um cacique, safras, o amadurecimento de frutas, uma boa pescaria; para assinalar a puberdade de adolescentes ou homenagear os mortos em rituais fúnebres; espantar doenças, epidemias e outros flagelos.

As danças indígenas podem ser realizadas por um único indivíduo ou em grupo e, salvo raras exceções no alto Xingu, não é executada em pares. As mulheres não participam de danças sagradas, executadas pelos pajés ou grupos de homens. São utilizados, ainda, símbolos mágicos, totens, amuletos, imagens e diversos instrumentos musicais e guerreiros em danças religiosas, dependendo do objetivo da cerimônia.
Em algumas delas muitos usam máscaras, denominadas dominós, que lhes cobrem o corpo todo e lhes servem de disfarce. A linguagem do corpo em movimento, sua organização estética e coreográfica, além do canto, ocupam um lugar fundamental no desempenho do ritual indígena.
Danças de rituais xamanísticos – centralizadas na figura do xamã, um líder que tem o papel de intermediação entre a realidade profana e a dimensão sobrenatural, em seus transes místicos e nos poderes mágicos e curativos que lhe são atribuídos – são realizadas em diversas tribos amazônicas.

Entre os rituais e danças mais conhecidos dos índios brasileiros estão o toré e o kuarup.

A dança do toré apresenta variações de ritmos e toadas dependendo de cada povo. O maracá – chocalho indígena feito de uma cabaça seca, sem miolo, na qual se colocam pedras ou sementes – marca o tom das pisadas e os índios dançam, em geral, ao ar livre e em círculos. O ritual do toré é considerado o símbolo maior de resistência e união entre os índios do Nordeste brasileiro. Faz parte da cultura autóctone dos povos Kariri-xocó, Ankararé, Geripancó, Kantaruré, Kiriri, Pataxó, Tupinambá, Tumbalalá,
Pataxó Hã-hã-hãe, Wassu Cocal entre outros.

A dança do kuarup (nome de uma árvore sagrada) – um ritual de reverência aos mortos – é própria de povos indígenas do Alto Xingu, em Mato Grosso. Iniciada sempre aos sábados pela manhã, os índios dançam e cantam em frente a troncos de kuarup, colocados no local onde os mortos homenageados foram enterrados.
Há inúmeras danças executadas pelos índios do Brasil, entre as quais podem ser destacadas:

Acyigua: Ama dança mística destinada a resgatar a alma do índio que morre assassinado. Característica dos índios Guarani, é executada pelo pajé auxiliado pelo melhor guerreiro caçador da tribo.

Atiaru: executada para afugentar os maus espíritos e chamar os bons. Dela participam homens e mulheres. A dança começa ao entardecer. Dois índios, com cocares de penas, chocalhos nos tornozelos e em uma das mãos a flauta yapurutu, com mais de um metro e meio de comprimento dançam, com um deles apoiando a mão no ombro do companheiro, executando rápidos passos de marcha para a direita e para a esquerda, marcados pelo som do chocalho. Dois outros índios, também tocando a yapurutu sentam-se ao lado da maloca, enquanto os dois primeiros, após dançarem demoradamente entram no seu interior. Eles saem, cada um, acompanhado por uma índia, que coloca uma das mãos no ombro do parceiro e procura acompanhar seus passos. Os dançarinos fazem a mesma coisa em cada uma das malocas e a dança continua num crescente até acabar de repente.

Buzoa: uma tradição do povo Pankararú, município de Tacaratu, Pernambuco foi resgatada pelos jovens da aldeia, através de relatos de membros mais velhos. Os passos são diferentes do toré e os integrantes não dançam em círculo. Utilizam a gaita e o rabo de tatu como instrumentos musicais, obtendo um vibrante resultado.

Da onça: realizada pelos índios Bororo, em Mato Grosso, onde o dançarino, que representa a alma da onça que matou com as próprias mãos, não deve ser identificado, por isso cobre-se com a pele desse animal, máscara de franjas de palmeira que também disfarçam seus pés e mãos. Toda a tribo acompanha o pajé e o dançarino, em um bater de pés ininterrupto, para que não haja descontinuidade. A dança continua por toda a noite.

Do Jaguar: é uma dança guerreira, da qual, por exceção, as mulheres também participam. Os índios em filas, seguidas de outra fila de mulheres, começam a cantar pulando de um pé para outro. Avançam doze passos e voltam, para que os que estavam na frente passem para trás, fazendo o mesmo na direção contrária. É característica dos índios Coroado, do Rio Grande do Sul.

Kahê-Tuagê: é dançada pelos índios Kanela, da região do rio Tocantins, na época da seca, onde predomina o elemento feminino. Apesar de não participarem, via de regra, de danças sagradas ou guerreiras, nessa as mulheres excepcionalmente têm a iniciativa. A dança é dirigida por uma índia que fica no centro de uma fila de jovens que ainda não tiveram filhos. As jovens em fila conservam-se sempre no mesmo lugar, com os joelhos dobrados e balançando os braços e o corpo para frente e para trás. Quando as mãos estão na frente do corpo batem palmas, marcando o ritmo. Os homens raramente são convidados a participar da dança, limitando-se apenas a responder em coro o estribilho do canto.

Uariuaiú; é dedicada ao macaco guariba, do qual algumas tribos se consideram descendentes. A dança não é acompanhada de nenhum instrumento só de cânticos. As mulheres pintam o rosto e o corpo, vestem saias de folhas de bananeira e rodopiam ao redor dos homens, com seus filhos a tiracolo. Todos entram na dança imitando o macaco.

Como de origem indígena, podem ser citadas também as seguintes danças do folclore brasileiro:

• cateretê, considerada uma das mais genuínas danças rurais brasileiras, cujo nome vem da língua tupi. É uma espécie de sapateado com bate-pé ao som de palmas e violas, sendo bastante conhecida nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás (onde é denominada catira);
• caiapós, muito dançada antigamente no litoral paulista. Com a chegada da civilização, os índios Caiapós foram recuando para as margens do rio Xingu, passando pelos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Pará, onde a disseminaram;

• cururu, dança sagrada de origem tupi-guarani, executada unicamente por homens, cuja coreografia é formada por duas filas indianas, uma de frente para a outra, onde os dançarinos dão dois passos para a direita e dois para a esquerda, transformando a fila em pequenos círculos;

• jacundá, dança muito popular no Pará, que representa a pesca do peixe do mesmo nome. Tem diversas modalidades no interior do país. No Amazonas é conhecida como piranha. Os dançarinos fazem uma roda, alternando um homem e uma mulher, que representa o cerco ao animal. No centro da roda, um homem e uma mulher dançam representando o peixe. Cantando e dançando procuram fugir da roda. Aqueles que os permitem vão substituí-los no centro da roda em meio a zombaria de todos;

• o gato, mais conhecida no sul do Brasil, é uma história totêmica, onde o gato (homem) corteja a perdiz (mulher) com um sapateado. A perdiz esquiva-se das intenções do conquistador.

 

FONTES CONSULTADAS:
MÜLLER, Regina Polo. Danças indígenas: arte e cultura, história e performance. Indiana, n. 21, p. 127-137, 2004. Disponível em: <http://www.iai.spk-berlin.de/fileadmin/dokumentenbibliothek/Indiana/Indiana_21/10MuellerRegPol_neu-kM__.pdf

POVOS indígenas no Brasil. Disponível em:
<http://pib.socioambiental.org/pt/povo/arawete/103>. RITUAIS mantêm identidade dos povos. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/JC/sites/indios/cultura1.html>. Acesso em:
SALLAS, Ana Luisa Fayet. Imagens etnográficas de danças indígenas no Brasil do século XIX. Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 51-66, 2001.

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