Nossa Engoma é a alma musical
A partir do momento que os gans e os médiuns têm a consciência da importância do mantra dos atabaques, o respeito por eles ganha grande importância.
Mantra é um som harmônico produzido repetidamente para atingir um determinado lugar ou local elevado espiritualmente. Não é difícil entender, mas muito complicado para executá-lo. É como construir em nossa mente um objeto que nunca vimos. Antigamente a palavra AUM era sagrada. As pessoas tinham até medo de pronunciá-la. Eu já era teimoso ficava sempre que podia repetindo aum, aum, aum… Até cansar. Parava e não tinha a mínima idéia para onde tinha ido o meu aum. Nunca imaginei que ia ter conhecimento disso agora, quando o Caboclo Akuan fez uma explicação. Ele chama no Terreiro, para uma limpeza geral nas pessoas e no próprio ambiente, uma linha der Ogum que ele diz ser a sua falange. Ele manda tocar um som vibrante nos atabaques, com repiques, sem canto ou palmas. Eles não bebem, não fumam, não falam e não sentam. Apenas vibram em uma corimba.
A resposta da entidade foi afirmativa, esclarecendo que essas entidades antigamente faziam parte de sua tribo e de tribos originadas dela, mas todas pertenciam a ele, o Caboclo Akuan. Em casos especiais e de necessidade, ele chama essa falange através dos atabaques. Eles, espalhados em vários lugares do mundo, quando ouvem o som dos atabaques, vêm atrás deles porque sabem que o Caboclo Akuan está precisando de auxilio. O som dos atabaques deixa bem claro o que é um mantra.
A partir do momento que os ogans e os médiuns têm a consciência da importância do mantra dos atabaques, o respeito por eles ganha grande importância. Pouca gente cultua, mas junto aos atabaques, o Rum, o Rumpi e o Lé, sempre fica uma entidade zelando pelo som que eles produzem. No nosso Terreiro, o nome dele é Ogan Khaian, com pintura intuitiva feita pelo Jimmy.
Inegavelmente os mantras dentro da Umbanda, além do som dos atabaques e sua engoma, são os pontos cantados. Existem pontos cantados para todas as situações do ritual, como abertura da gira até seu encerramento, até mesmo para homenagear visitas de Pais ou Mães de Santo. Em outro local deste site (Musicas) eles estão amplamente divulgados. No caso presente falamos dos pontos que são mantras dentro da Umbanda, ou seja aquele som que ecoa pelo espaço ou éter até alcançar as camadas para as quais esse som foi projetado. Mais objetivamente vamos comentar sobre os pontos cantados individuais dos espíritos e dos de linha.
Ponto individual
O ponto individual é aquele que é o elo musical com uma determinada entidade. Se no Terreiro sabe estarem chamando por ela. Existem fatos dentro da Umbanda muito interessantes e que passam a servir como proteção aos Terreiros. Em um ponto cantado de uma entidade, dificilmente um obsessor se fará passar por ela. Exemplificando, se vai se chamar um Pai Joaquim de Angola no seu ponto certo, conhecido e tradicional, nenhuma entidade mentirosa se fará passar por ele, porque a sua responsabilidade da eventual falsidade vai lhe acarretar a obrigação de responder por esse ato perante o próprio Pai Joaquim, o que nenhum obsessor com certeza quer. Então o ponto individual é o mantra criado com determinada entidade, que não deve ser mudado e sempre cantado o mesmo. Eu recebo o Exu Tranca Ruas das Almas desde a primeira vez que isso aconteceu sempre no mesmo ponto. Cantam muitos, mas eu só o recebo no tradicional, a minha garantia que é realmente o Exu Tranca Ruas das Almas que incorporou.
Pontos de linha
Ponto de linha é o que chama as entidades de determinada linha, sem ser uma entidade nominada, mas todas as entidades daquela linha. Por exemplo, quando se canta para Oxossi, todos os caboclos podem incorporar, desde que seja desta linha. Não pode é um caboclo de Ogum ou Xangô incorporar em um ponto de Oxossi. Usa-se muito esse recurso. Chama-se a entidade e depois o ponto de linha para que todos os falangeiros da entidade possam incorporar.
Os cuidados com os pontos cantados
Por ser o canto um mantra de chamada do (ou dos) espíritos, todo cuidado é pouco para que não aconteçam enganos e distorções. Sempre digo que se cantar para o Diabo ele vem e com toda autoridade, uma vez que foi chamado. Os terreiros devem cuidar para que pessoas entendidas sejam o que se chama de Samba, ou aquele que puxa o ponto de acordo com as regras da casa e das entidades presentes no trabalho.
Nem sempre uma musica bonita é mantra de Umbanda. Musicas criadas e cantadas pelo povo, apesar de vibrantes e do gosto popular, às vezes não serve para ser cantada durante uma gira.
O som dos atabaques e da engoma
Muitas vezes os atabaqueiros se entusiasmam e batem no couro com muita força, o que provoca uma natural tendência para que os que estão cantando também aumentem a voz, o que resulta em total desafinação. Isso é inadmissível. Nesses casos cabe à direção dos trabalhos controlar o som do atabaque e do canto. Espírito é sensível e por isso seus mantras devem ser entoados com muito amor, carinho e paz interior. O mantra é assim. Engomas que ficam bebericando, fazendo piadinhas e saem a todos instantes do local dos atabaques não servem para ogans.
Engoma
Engoma é o conjunto musical de um Terreiro. Alguns têm como instrumento apenas os atabaques – Rum, Rumpi e Lé, mas outros, como é o caso do Terreiro do Pai Maneco, além deles tem surdo, pandeiro, agogô, violão e outros instrumentos de percussão. Isso tudo, misturado com um canto equilibrado forma um mantra fortíssimo e do agrado de todos.
A música
A música foi feita para as pessoas se amarem”.
Essas palavras foram ditas por uma professora de musica já desencarnada. Eu levo isso a sério.