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FÉRIAS: tempo de exercitar o que aprendemos ao longo do ano

Mais um ano se encerra e me indago sobre o que escrever. Já discorri sobre a mentalização da corrente de médiuns em outro artigo, procedimento a ser usado em casos de emergência durante o recesso dos trabalhos.

Umbandista e adeptos de outras religiões, contudo, não tiram férias. Os trabalhos podem sofrer uma pausa, sem que, com isso, as pessoas deixem de exercitar o aprendizado adquirido nos trabalhos espirituais. Férias do Terreiro significam um descanso para os médiuns, pois os espíritos continuam trabalhando, procurando nos ajudar a crescer espiritualmente.

Talvez seja este o tempo que dispomos para entrar em maior sintonia com nossos guias, quando procuramos harmonizar nossas energias, já que esta parada coincide com os feriados de Natal e Ano Novo, bem como com as férias escolares, quando o país descansa.

Para alguns, este recesso vem em boa hora, cansados que estamos das atribulações anuais, para outros, contudo, representa uma lacuna quase insuportável, pois o afastamento das giras pode vir acompanhado de um sentimento de insegurança e abandono. Lembro aqui que trabalhos fora do Terreiro são absolutamente proibidos, pois podem acarretar graves problemas. Isto é: em férias, a gente não incorpora, ou melhor, a gente nunca incorpora fora dos trabalhos no Terreiro. Claro que podemos fazer entregas, cantar pontos e mentalizar os Orixás.

Gosto das férias pois costumo ir para a praia e caminhar na areia cantando pra Ogum e Iemanjá. Reverencio as pedras de Xangô e as matas de Oxóssi, aproveito o sol de Oxalá, lamento o fato de que os rios de Oxum que desgaguam no mar têm cheiro de esgoto e agradeço a refrescante brisa de Iansã. Peço aos Exus que nos protejam dos problemas causados pelos excessos e abusos daqueles que vão à praia pra fazer bagunça.

Confesso que não entendo a razão pela qual as pessoas acreditam que vizinhos de areia ou de residências gostam compartilhar seu gosto musical. Não tem nada mais chato do que vizinhos que gostam de som alto, na maior parte das vezes, de caráter duvidoso. Aqui chego a um ponto importante, que é a questão da ética e da boa educação.

Algo mais ou menos como desalojar os méduins que já estão preparados para trabalhar, afastando seu material do lugar que foi reservado. Ou incorporar Iansã e sair batendo em todos os que estão em volta, com o argumento que não consegue controlar a entidade.

Neste ano tivemos a entrada de muitos méduins no Pai Maneco e cada qual com sua carga de vida: pessoas diferentes com necessidades e costumes distintos. Sei que a empolgação, quando se conhece a Umbanda, é grande e somos tomados por uma espécie de deslumbramento com todas as maravilhas que passamos a conhecer. Muitas vezes confundimos o lado espiritual com o material e aí as coisas podem ficar complicadas.

Simplifica manter aquilo que costumamos aprender em casa: respeitar todas as outras pessoas. Confesso que a gira, às vezes, parece o Inter 2 na hora do rush: pesssoas se empurrando, querendo se colocar num lugar melhor, esquecendo dos mais velhos, dos que têm problema de mobilidade, numa espécie de Deus nos acuda ou cada um salve sua pele, ou lugar. Mas ainda bem que tem bastante gente, triste seria uma gira vazia.

Como estamos encerrando um ciclo, vale lembrar que as tábuas usadas para riscar o ponto devem ser lavadas após o encerramento da gira e não quando o méduins desincorporam. Novidade? Juro que não, pois estar presente na prece de encerramento é fundamental: nesta hora fechamos os trabalhos e vamos embora com a proteção das entidades. Lembro ainda da importância dos banhos de descarrego antes da gira e da roupa branca, discreta, que deve ser usada apenas no Terreiro.

Deste ano fica, em mim, a marca de ter conhecido pessoas maravilhosas, médiuns novos cheios de amor, que se somam aos grandes amigos que tenho no TPM. Compartilhamos uma das coisas mais importantes da minha vida: a crença na capacidade que temos de, através da comunicação com os espíritos, sermos um pouco melhor para o mundo. Em 2017, rezamos pela paz, pedimos ajuda contra a intolerância, e acima de tudo, vivemos juntos o amor que os espíritos dirigem a nós.

Se a organização material sempre pode ser melhorada, a espiritual revela cada vez mais seu poder. Juntos somos fortes, com os espíritos conseguimos superar dificuldades que seriam terríveis se estivéssemos sozinhos. Agradeço, portanto, o carinho de todos, não só por mim, mas pelo Terreiro do Pai Maneco, pela Umbanda e acima de tudo, agradeço por sermos uma corrente de ferro e de aço. A união e o amor pela humanidade são a nossa forma de lutar contra a violência, a desigualdade e a intolerância.

Saravá
Cristina Mendes
Dezembro de 2017.

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