As Forças da Umbanda
A diversidade do rito umbandista é algo maravilhoso. Faz com que todos os terreiros sigam a mesma linha mestra por caminhos diferentes. Assim como na música, podemos dizer que cada terreiro tem um tom especial que vibra exatamente na frequência do gosto de seu dirigente. Isto torna a Umbanda alegre por não ser sempre a mesma coisa. Até dentro do mesmo terreiro e na mesma gira, um dirigente pode alterar o ritual (e isto é feito com frequência), pois não há compromisso com nenhum script. Esta liberdade torna as giras alegres, divertidas e causa até uma certa ansiedade (boa, é claro) nos médiuns exatamente por não saberem o que acontecerá na próxima gira. É comum percerbermos nos minutos que antecedem o inicio dos trabalhos um certo frenesi coletivo, uma expectativa, uma dúvida: como vai ser a gira de hoje?
Se a diversidade é algo real e se traduz em diferenças, tem algumas coisas que parecem fixas, imutáveis e até mesmo consensuais. Os três pilares da Umbanda me parece ser uma delas.
Pouco se discute sobre isso, mas até hoje aceitamos que a Umbanda está arquitetada sobre três pilares também conhecidos como as três forças da Umbanda: Pretos-Velhos, Caboclos e Crianças.
Estas três linhas formam a tríade da Umbanda e é comumente representada por um triângulo colocando-se em cada vértice uma destas forças.
Os Pretos-Velhos, os reais mandatários, comprometidos com a espiritualidade superior na criação de uma nova religião em nosso planeta, são os verdadeiros exemplos de sabedoria e humildade. São o estágio da evolução espiritual que todos nos devemos almejar alcançar um dia não importando o tempo que for necessário. Os Pretos alcançaram a condição de Pretos-Velhos na Umbanda após pelo menos uma encarnação duríssima como escravos laboriosos a serviço de seus senhores.
Os caboclos, índios brasileiros de todas a tribos, em sua maioria dizimados por colonizadores europeus, constituem a força motriz que movimenta a umbanda. São os executores das ordens provenientes dos Pretos-Velhos tal qual numa grande empresa comercial onde os gerentes executam o que foi ordenado por seus diretores. O Terreiro é do Pai Maneco, mas o chefe do congá é o Caboclo Akuan. Foi assim durante o comando do saudoso Pai Fernando de Ogum. O Preto-Velho é o diretor. O caboclo é o gerente. O Terreiro é do Pai Joaquim, mas quem comanda é o Caboclo Sete Flechas … e assim por diante
As Crianças, o terceiro pilar da Umbanda, são entidades elevadíssimas que já passaram por muitas encarnações e em sua última passagem desencarnaram em tenra idade. Representam o conhecimento profundo demonstrado pela ingenuidade inata das crianças. São entidades que demonstram toda sua força sobretudo em situações críticas na vida das pessoas.
Até aqui nada de novo, pois como dissemos acima esta questão parece ser consensual. Mas queremos levantar aqui uma nova questão: e os Exus, não são efetivamente uma força da Umbanda?
Aqueles adeptos de divisões e subdivisões sem fim dirão exaltados: os Exus são da Quimbanda e não da Umbanda! E nós perguntaremos: Como você sabe? Ou talvez perguntemos: O que é a Quimbanda? Quem traçou uma linha divisória entre a Umbanda e a Quimbanda? Quando esta divisão foi definida? Há cem anos? E de lá para cá as coisas não evoluíram. Se a única coisa certa na vida é a mudança, nada teria mudado na relação entre os Exus e a Umbanda?
Amigos, sem querer polemizar ou questionar o que foi escrito por brilhantes e destacados médiuns no passado e no presente, queremos apenas falar sobre o que vemos há muitos anos no Terreiro Pai Maneco. Enquanto giras de Pretos Velhos, Caboclos, Marinheiros, Boiadeiros e Ciganos estão sempre cheias, as giras de Exu estão abarrotadas. É o gosto popular por Exus e Pomba-Giras. A gira dos Exus é realizada exatamente no mesmo ambiente onde são realizadas as demais giras sem nenhuma diferença ou distinção. Alguns terreiros usam um ambiente para giras de Caboclos e Pretos e outro para giras de Exus. Outros cobrem o congá com panos para a realização das giras de esquerda. No Pai Maneco não fazemos nada disso. Impossível imaginar um Terreiro de Umbanda como o Pai Maneco sem a participação ativa, generosa e encantadora do Exu Caveirinha, do Exu Marabô, Do Exu Sete Encruzilhadas, do Exu Gira Mundo, do Exu João Caveira, do Exu Veludo, do Exu Mangueira, do Exu Tatá Caveira, da Dona Maria Padilha das Almas e toda uma legião imensa de Exus e Pombas-Giras dispostos a trabalhar pela sua evolução. Impossível crer num terreiro de Umbanda sem a presença do Sr. Tranca Ruas das Almas, Tranca Ruas da Encruzilhada e Tranca Ruas da Porteira, defensores incansáveis de todos os terreiros. Impossível ver um linha separatória nítida em Pretos-Velhos, Caboclos, Crianças e Exus. É claro, cada um fazendo o seu trabalho de forma organizada, disciplinada e hierarquizada: Os Pretos dizem o que; Caboclos dizem quando; Exus sabem como. É a harmonia perfeita onde o merecimento é o critério para que as coisas aconteçam. Entendemos que Exus, Caboclos, Pretos e Crianças estão juntos, lado a lado, em permanente comunhão de pensamentos em todos os momentos e em todas as giras. É evidente que o comandante de um exército não mandaria enfermeiros para a frente de batalha. Há soldados muitíssimo mais preparados para isso. Da mesma forma jamais uma Criança será enviada para regiões do mundo espiritual onde impere a maldade, a violência, a submissão e o sofrimento. Para esta tarefa existem os Exus, plenamente preparados para este campo de batalha, senhores conhecedores dos caminhos, dos atalhos, dos abismos, dos percalços, das armadilhas. Sim, para nós, estes são os Exus. Incansáveis trabalhadores da Umbanda.
Ousamos sugerir que a Umbanda não seja mais representada por um triângulo, mas sim por um quadrilátero, um quadrado ou um losango de forças composto por Pretos-Velhos, Caboclos, Crianças e Exus.
Laroie todos os Exus e Pomba Giras
Pai Caco de Xangô
Excelente difusão de conhecimentos Pai Caco, através de texto de fácil inteligência!