Mãe Georgiana de Iemanjá
A Mãe Georgiana de Iemanjá conheceu a Umbanda quando criança. “O meu pai era umbandista. Desde cedo frequentava o terreiro onde ele trabalhava, mas eu ia apenas nas festas dos Erês ou dos Pretos Velhos. “Assumi a Umbanda na minha vida no dia 2 de maio de 2009, depois de uma consulta com Seo Akuan”, conta.
Está no Pai Maneco há oito anos e recentemente foi cruzada mãe de santo. “Há algum tempo atrás uma amiga minha teve um sonho com meu pai. Meu pai, que já havia falecido há um bom tempo e a quem essa amiga não tinha jamais conhecido, e neste sonho ele mandava um recado para mim: para que eu fosse ao Terreiro do Pai Maneco e para que eu levasse o Paulo, meu marido. Esta amiga frequentava a assistência do Pai Maneco, mas ficou pensando como iria abordar um assunto desses: “Sonhei com o seu pai e ele quer que eu te leve no terreiro! Simples, né? Pois é, foi mais ou menos assim que ela me contou mesmo”.
“Ela me relatou como era o lugar no bairro do Santa Cândida e que tinha um site na internet no qual eu deveria dar pelo menos uma olhada. Agradeci a ela por todo o carinho e atenção comigo, mas fiquei pensando: meu pai nunca me incentivou a frequentar a Umbanda. Ele era médium, mas sempre me disse que a Umbanda estava dentro da gente. E agora ele quer que eu vá? Não mesmo! Ah, mal sabia eu”. Dois dias depois da minha amiga contar o sonho, uma outra amiga me liga animadíssima: “Geor, você não imagina o que vai acontecer! Na terça-feira de noite não marca nada. Eu, você e o Paulo vamos em um terreiro de Umbanda lá no Santa Cândida. Anota o endereço do site, para você já ir lendo, têm uns textos na seção ‘Minha opinião’.
“Eu comecei a tremer! Vou ter que ir agora, pensei, não vou conseguir fugir!
E fui à gira do Pai Jussaro de Ogum. Me consultei com Pai João de Benguela, que me disse que não era bem com ele que eu teria que conversar e que logo eu ia descobrir com quem seria esta outra conversa. Não falou nada sobre o sonho da minha amiga, mas ao final eu senti que tudo a minha volta tremia, como se eu estivesse na festa de Erê da minha infância, no Terreiro de Umbanda que meu pai frequentava naquela época. Depois descobri que era outro João, ”Pai João de Angola”, no pai Caco de Xangô. Um preto velho muito amado por mim, desde minha infância”.
“Voltei para casa com uma enorme dúvida. Aquelas músicas, todo aquele povo de branco de guias e a imagem do Congá não saíam da minha cabeça. Não consegui dormir naquela noite, sentia alguém por perto, sentia perfume de flores, cheiro de charuto e uma saudade de algo que eu não sabia o que era. Precisava resolver isso! Entro no site do TPM e encontro um link para enviar um e-mail ao Pai Fernando. Será parente do Acyr Guimarães, nome da rua onde eu morei na adolescência?”
“Escrevi o e-mail me apresentando e relatando tudo o que estava acontecendo, afinal de contas ninguém quer receber um e-mail de uma desconhecida contando que escuta risada de crianças, sente cheiro charuto e outras coisas inimagináveis. Hoje sei que é muito normal, mas na época não sabia. Para minha surpresa, recebo uma resposta logo em seguida: ‘Você é da família Kalluf? Conhece um advogado gordo chamado Jorge? Quero te conhecer, venha falar comigo. Axé Fernando.’”
“Meu pai eterno, esse homem conhece o meu pai e a minha família! Está aí a pessoa com a qual o Preto Velho falou que eu tinha que conversar! Chorei um monte e fiquei emocionada: está dando certo, a Umbanda no coração! Marcamos de nos conhecermos numa segunda-feira, mas eu tive um compromisso profissional de última hora, eu trabalhava à noite nesta época. Mandei um outro e-mail pedindo desculpas por não comparecer e recebo a seguinte resposta: ‘Fique tranquila eu também não fui a gira, por motivo de gripe’. Agendamos para outra segunda-feira, e no domingo a noite recebo a visita do Seu Akuan no meu quarto. Falo para mim mesma: Georgiana, você é míope de 9 graus e vai enxergar um índio com uma águia no ombro dentro do teu quarto? É sonho!”
“No tão esperado dia da consulta sentamos eu e o Paulo na frente daquele senhor que me olha e diz para as cambones: ‘Fui conhecer ela antes que todas vocês. Vista o branco e venha!’ Respondo entre lágrimas que não poderia, porque trabalhava à tarde e à noite todos os dias. Ele bateu carinhosamente no meu rosto e fala que vai resolver isso. E resolveu: fui demitida e arrumei um emprego melhor e durante o dia!”
“Ele me disse que eu devia “vestir o branco e ir”, mas eu só consegui ingressar na corrente quase um ano depois: houve um período em que a gira de segunda-feira estava fechada para novos médiuns e precisei esperar a janela de transferência do final do ano. Enquanto isso, compareci às sete giras para assinar a lista de presença, fiz todos os cursos e preparei o meu branco para começar em janeiro”.
“Iniciei em janeiro de 2010 na gira de segunda-feira do Pai Fernando de Ogum. Fui cambone de médiuns muito queridos, entidades maravilhosas, fui acolhida e recebi todo atendimento necessário”.
Em 2011 a Mãe Georgiana de Iemanjá começou a participar da Gira dos Animais junto com a Mãe Denise de Ogum e, em julho de 2018, foi cruzada Mãe de Santo, pela Mãe Lucília de Iemanjá. “Por sua solicitação, assumo a Gira dos Animais que acontece no Anexo II das dependências do nosso terreiro, sempre às 20 horas em toda última quinta-feira do mês. Continuo na segunda-feira também, com muita felicidade!
Entidades que trabalha:
Caboclo Anapuan (meu pai de cabeça); Ogum: Caboclo Ogum Beira Mar; Xangô: Caboclo Tanguá; Preta Velha: Mãe Joaquina do Rosário; Erê: Aurélia; Boadeira: Teresa de Januário; Cigano: Damiam; Marinheiro: Zé da Tomba; Exu: Seo Exu Pimenta; Pomba Gira: Dona Maria Padilha das Almas.
Qual a melhor mensagem deixada em sua vida pelo Pai Fernando?
São muitas as mensagens que o Pai Fernando transmitiu e deixou registrada. Em especial gosto dessa que você lê e rele várias vezes e cada vez aprende mais:
“O Zélio de Moraes, incorporado com o Caboclo Sete Encruzilhadas anunciou que a Umbanda estava sendo criada “para que os espíritos dos pretos velhos africanos possam trabalhar em benefício (…)
Não quero discutir sobre religião. Essa relegação não deve ser entendida como desnecessária dentro da Umbanda, mas prefiro declinar seu estudo para falar dos seus objetivos. De um modo geral, havendo algumas exceções, os umbandistas se perdem dentro da prática religiosa por absoluta falta da referência principal por ocasião da sua criação. Inegável que seus fundadores delinearam o perfil das entidades que trabalhariam dentro de seu corpo de ação. Os cascões dos espíritos dos caboclos, dos preto-velhos, das crianças e ainda daqueles que constituem a quimbanda é à base da Umbanda e eles incorporam nos médiuns disponíveis formando o seu exército espiritual. As suas casas espirituais foram chamadas de Terreiros, dentro deles foi revelada toda a estrutura para defender-se de seus inimigos, os chamados espíritos das trevas. Daí nasceu o congá, a segurança e a tronqueira. Foi recomendado o uso da tradicional roupa branca e ensinado o manejo dos elementos de magia, como o álcool, o fumo, a pemba, o ponto riscado e a música. Foi, então, formada a base para as reuniões espirituais com as incorporações desses espíritos. E assim foi e ainda é feito.
Cada agrupamento espiritual tem seus objetivos bem esclarecidos. Uns vão em busca da felicidade divina, outros buscam a iluminação interna, outros querem cair nas graças de Jesus, mesmo que para isso tenham que apregoar a fidelidade de Deus. Isso tudo que digo não tem nenhum embasamento cultural. Apenas é assim que penso e sou.
E a Umbanda? O que buscam seus adeptos? Quando é que vamos começar a descortinar o misterioso véu que envolve a religião? Por que na Umbanda tudo tem que ser cheio de segredos? Por que os pais (ou mães)-de-santo têm que, diante de uma simples pergunta, esboçar um misterioso sorriso e asseverar:
Tudo que eu sabia eu sempre contei. E vou continuar contando.
Em busca dessa indagação “por que estou na Umbanda?”, aliás pergunta que atormenta muita gente, resolvi buscar a resposta. Dentro da minha religiosidade não estou buscando o céu nem a felicidade eterna, nem a iluminação interior. Todos dizem que Jesus me ama, então não preciso fazer nada para que isso aconteça e tento ser fiel a Deus sem exigir que ele me seja fiel. Isso tudo que estou dizendo não tem embasamento cultural. Tudo isso é fé. Fé que sempre tive e vou continuar tendo.
Das coisas que vou dizer adiante existe um monte de exceções. Vou relatar dando pinceladas nas convicções da maioria dos médiuns que se dedicam à Umbanda. Dizem que vão fazer caridade no terreiro. Para quem? Para a namorada que perdeu seu amor? Para o homem que ficou sem dinheiro, ou pataca – a moeda antiga de prata? Para curar as doenças físicas dos consulentes? Para afastar as amantes do marido? Para tirar inquilinos do apartamento mal alugado? E aí vai um monte de triviais problemas que compõem a base das consultas nos terreiros. Claro que por outro lado são resolvidos problemas de graves proporções. Mas enfim, não quero menosprezar a dificuldade dos outros, porque eu também as tenho em grande escala e proporções.
O Zélio de Moraes, incorporado com o Caboclo Sete Encruzilhadas anunciou que a Umbanda estava sendo criada “para que os espíritos dos pretos velhos africanos possam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social…” Muitos outros ensinamentos otimizaram as palavras simples do fundador da Umbanda. Nem poderia ser diferente, considerando que ele disse isso sentado em uma mesa dentro de um centro kardecista.
Fui excluindo os problemas para chegar a um resultado qualquer. Os pedidos triviais dentro dos terreiros encobrem um problema bem maior: a obsessão! A Umbanda é inigualável no encaminhamento dos espíritos desviados dos princípios da conscientização espiritual. Não só os espíritos maus que se aproximam dos encarnados são afastados, mas também são carinhosamente encaminhados ao astral superior os espíritos que não têm noção de seu desencarne e ainda ficam presos na matéria. Em síntese, a Umbanda foi criada também para ajudar o mundo invisível paralelo. Então os umbandistas que deixem de estudar só os caboclos, preto-velhos e crianças, e passem a observar melhor os espíritos que coabitam conosco a crosta desse planeta Terra.
Essa é a minha opinião! – Novembro 2007 – ( site https://www.paimaneco.org.br)
Cite uma história marcante com alguma entidade que trabalha.
Na gira em homenagem aos Boiadeiros realizada no Terreiro Pai Maneco no dia 11/10/2014, a boiadeira que trabalha comigo, Teresa de Januário, sentada no toco e bebendo seu café contou ao cambone que em vida não teve uma casa, uma família e que os filhos que pariu deixou pelo caminho.
Ela vira para trás e olha o terreiro todo iluminado, uma grande fogueira acessa em frente ao jardim dos Orixás e muitos médiuns incorporados. Com lágrimas nos olhos e a voz carregada de emoção, fala “É filho agora eu tenho uma casa. Uma casa de amor e caridade. Uma casa que posso sempre voltar. Nunca é tarde para a gente ter o que o coração quer e alma merece.” Xetruá D. Teresa!
Deixe uma mensagem para os filhos da casa:
Todo médium deve ter consciência em manter o seu coração aberto para o Amor, para Compaixão e para Esperança, e que nossa mente fique aberta para o discernimento, a lógica e a sabedoria.
A determinação deve fazer parte da nossa escolha, da nossa fé e da nossa religião, a Umbanda.
Respeite sua escolha, respeite sua casa, respeite seus irmãos de Fé e acima de tudo respeite os Orixás. Exercite a tolerância!! Viva Umbanda!!
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