Boiadeiros
Os Boiadeiros são entidades que amam a família e a natureza e trabalham em uma das linhas neutras da Umbanda, assim como os ciganos, baianos e marinheiros. “Tiveram uma encarnação como tropeiros ou de alguma forma estavam ligados ao transporte de animais”, explica a mãe pequena Cristina Mendes.
A hierarquia das entidades segue a hierarquia dos dirigentes da casa. Seo João Boiadeiro é chefe por incorporar no Pai Fernando. Seo Pedro Mineiro é chefe porque incorpora na Mãe Lucilia e assim por diante. Mas existem algumas particularidades, como no caso do Seo Venâncio. “Por ter sido pai do Seo João Boiadeiro, tem destaque hierárquico espiritual”, ressalta.
A Cris tem uma história bem interessante sobre Seo João Boiadeiro. “Participei de uma viagem para Cachoeira, na Bahia, com Pai Fernando. Quando chegamos lá, lembramos do ponto antigo que dizia: “Seo João Boiadeiro da Cachoeira de São Felix”. Então entendemos que poderia significar que ele teria vivido em Cachoeira e São Felix, cidades separadas pelo rio no recôncavo baiano. Bem antes dessa viagem, passamos cerca de um ano fazendo entregas para ele, que havia avisado não voltar ao terreiro enquanto os médiuns não entendessem os boiadeiros. Quando retornou, todos tinham compreendido que para esta linha o amor da família é o elemento principal”, conta.
Os elementos de trabalho dos boiadeiros são basicamente corda de laçar, ferraduras, cajados,podendo usar ervas, pedras e elementos similares aos utilizados por caboclos. Existem alguns pontos riscados de boiadeiros, realizados em ocasiões especiais. Via de regra: boiadeiro não risca ponto.
A mãe pequena explica que eles gostam de cuidar de assuntos relacionados à família, saúde e conselhos para a vida cotidiana. E a entrega pode ser feita com comidas típicas dos tropeiros. Pode conter frutas, velas amarelas, cigarro ou palheiro. A bebida pode ser o marafo. Evita-se carne e materiais não perecíveis.
Quando questionada sobre uma história marcante sobre a entidade que trabalha, o Seo Zé do Pito, ela conta que tem tantas que fica difícil escolher. “Penso que uma das que mais me marcou foi quando ele passou para o Reinaldinho o conteúdo do ponto cantado que ele queria. Foi quando me senti muito próxima dele, como se ele estivesse mostrando seu próprio desencarne”. “Toca a boiada na estrada, joga o laço e dá seu grito, abre a porteira quebrada, ele é. S. Zé do Pito. De São Luiz do Purunã ele foi pra Aruanda numa linda manhã. Viver pertinho de Oxalá pra vir aqui ajudar a resolver as demandas. Com seu chapéu de boiadeiro Zé do Pito vem cá, vem trabalhar no terreiro”.
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