É preciso sair da ilha para poder ver a ilha, por Luciana Cabral
Em uma consulta, o Caboclo Tucunauê atendeu uma doce consulente, frequentadora da assistência do Terreiro do Pai Maneco há muitos anos. A gentil moça sabe que o desencarne de sua mãe de carne está próximo e divide os cuidados da matriarca com a irmã, que não aceita tão bem assim o inafastável destino de todos os seres vivos. A consulente se queixava que a irmã, muito nervosa, briga muito com ela. O Caboclo entendeu e calmamente começou a falar: ” – Filha, você frequenta esta casa há anos. Você se abriu para a espiritualidade. Você escuta a espiritualidade e a espiritualidade escuta você. Você respeita a espiritualidade e a espiritualidade respeita você. O mesmo não acontece com a sua irmã, que ainda está muito apegada ao material. A sua conexão com a espiritualidade não te faz melhor que ela. Quer dizer apenas que você enxerga de uma forma diferente dela, e por enxergar algo que os olhos delas não vêem, você tem a obrigação de compreendê-la. Sobre a sua irmã, é sua obrigação compreender o limite dos seus olhos e da própria compreensão.” Eu já havia ouvido essas mesmas palavras de uma médium que hoje não faz mais parte do corpo mediúnico no Terreiro do Pai Maneco, a Izabel, em uma situação parecida. Imediatamente me lembrei dessas palavras e que eu havia esquecido que, parafraseando Saramago, é preciso sair da ilha para poder ver a ilha. Hoje entendo que é preciso compreender às pessoas no limite das suas compreensões. E das nossas próprias. Um passo de cada vez. Por ora, compreendo. Ogunhê.
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