Pontos de Umbanda, Vol. II
Hoje entra em nosso site “Pontos de Umbanda, Vol. II”. Abaixo segue um texto onde o Pai Lolô de Ogum relata todo o processo de desenvolvimento até o resultado final, que vocês podem conferir aqui: https://www.paimaneco.org.br/musica/pontos-e-musicas/
Os pontos que viemos gravando ao longo dos últimos três anos no Old Black Records, do nosso querido Helinho Pimentel, são frutos de um trabalho coletivo. Um coletivo à la Caboclo Akuan, que emulsiona as individualidades marcantes dos personagens de nosso Terreiro em um uníssono poliédrico. Sambas, Ogans e músicos de todas as giras traduzem seu amor pela Umbanda em vibrações sonoras, a fim de (re)construir os pontos em sua forma mais bela. Meu trabalho é somente ajudar a cada um extrair o melhor de si. Nem é difícil, pois todo mundo que pisa no estúdio já vem cheio de vontade de fazer o mais belo possível.
Quando vou arranjar cada canção, sempre busco inspiração nos “donos” dos pontos. Penso que os melhores pontos que produzi foram os que consegui simbolizar suas personalidades e vicissitudes na construção das músicas. Mas dessa vez íamos gravar o ponto de chamada de nosso amado comandante, o Caboclo 7 Ponteiras do Mar. Baita responsabilidade! Tinha que ficar perfeito e mágico, porém eu não sabia exatamente como traduzi-lo. Inicialmente tive a certeza de que precisávamos de muitas vozes, de muito simbolismo e de simplicidade.
Ouça com atenção ao seu ponto e imagine uma grande gira coletiva, na mata, onde cada médium do Terreiro aguarda ansiosamente a chegada de nosso chefe. Os atabaques são convocados a tocar vigorosamente, logo todas as Sambas cantam seu ponto de peito estufado de amor e respeito. Nove vozes entram em uníssono representando cada gira e cada Pai e Mãe de Santo de nosso TPM em perfeita sintonia e união. De tão belo que está, nosso Caboclo se detém em seu caminho ao centro da corrente para poder ouvir e curtir essa maravilha. Ele se enche de orgulho, tanto que seu coração extravasa e passa a ser sentido por todos. É nesse momento que o surdo começa no ritmo de seu pulso. Tum – tum! Mãe Lucília está vibrando muito, mas para a sua chegada e incorporação ainda falta algo. É quando entram as palmas. As palmas simbolizam cada irmão, cada elo dessa corrente de ferro e de aço atento, focado, vibrando juntos e chamando Seo 7 Ponteiras. Agora sim! Duas batidas secas e bem definidas do surdo são o som de cada um de seus pés pisando em nosso sagrado solo, trazendo a Umbanda Pés no Chão. Pronto, daqui pra frente é só curimba e sorrisos.
Desta vez gravamos somente pontos que foram compostos por membros do TPM. A escolha das músicas ficou a cargo da Mãe Cris Mendes que fez sua pesquisa para identificar os pontos que foram compostos no TPM e selecioná-los com critério cronológico. Como aprendemos na Umbanda, não podemos conter os movimentos naturais e assim entraram 2 pontos novos compostos na Gira do Pai Renato – Ogum Akutã e Exu Capa Preta. Nosso querido Reinaldo Godinho domina o set list com suas belas e sorridentes canções. Guerreiro da Paz, Pai Tinga, Marinheiro Martinho, 7 Ponteiras e O Milagre da Cura de Maria Redonda são todas dele. Pai Bitty e Mão Cris dividem a autoria de Caboclo do Mar e Ogum das Matas e ela ainda compôs o ponto do Caboclo Jacurundá. Mãe Eli criou esta maravilha que é o ponto do Seu Exu Mangueira. A Samba Adriana Batista fez o ponto Soberana do Mar. A lista fecha com Flor de Laranja, composta pelo próprio Pai Maneco e Exu 7 da Lira, composta por ele mesmo.
Tudo isso só foi possível graças ao mago Renato Ximú, sempre disposto e solícito ao operar a mesa de som e mixando de forma magistral. Agradeço a imensa sensibilidade de nosso irmão, parceiro de todas as canções, Miguel Koteski, à Profe Cris Mendes pela sensibilidade e presença constante nos bastidores e dentro do estúdio, além de sua voz suave e sempre afinada e às demais Sambas e Ogans que doaram seu tempo para construir este álbum.
Pai Lolô de Ogum
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