Minha Opinião – Setembro 2010
De um jovem irreverente me transformei em um fanático ouvinte dos mais velhos. Adorava ouvir as suas histórias e experiências.
A minha juventude sempre foi pautada pelo trabalho e atividades relativas a espiritualidade e, eventualmente, participava do esporte relativo a criação de cães, tanto que com vinte anos de idade fui diretor de um clube cinófilo. Naquela época meu potencial e velocidade eram iguais a de um trem bala e não me incomodava com a possibilidade de atropelar as pessoas que se opunham às minhas idéias.
Eu considerava não só a estrutura do clube, mas toda a sua organização obsoleta e que tinha que ser modificada. Propunha modificações que eu entendia serem necessárias, abismando meus pares de diretoria com as novidades que eu sugeria. Eles as consideravam absurdas e sem fundamentos. Percebi que eu precisava de aliados que me dessem suporte para aprovação das idéias. Procurei apoio em dois antigos diretores, ambos de idade avançada. Eu antecipava a eles o que ia propor e quando eles me recomendavam cautela eu desistia da idéia, mas quando sinalizavam com a cor verde sem medo eu enfrentava os acomodados diretores e insistia na sua aprovação e quando isso acontecia o sucesso era total. Eu não só me apaixonei pela clareza das suas análises, como descobri que, ao contrário do que inicialmente eu pretendia, acabei manipulado pelos dois idosos. Eu descobri meu envolvimento e concordei com a situação. Nasceu uma parceria muito legal: a audácia de uma juventude inovadora amparada pela experiência de dois homens sábios. Acho que por isso fui um bom diretor.
Interessante recordar os anos passados. De um jovem irreverente me transformei em um fanático ouvinte dos mais velhos. Adorava ouvir as suas histórias e experiências. Meus confidentes tinham sempre o dobro da minha idade. E o trem bala passou a ser apenas um trem.
Quando me entusiasmei pelo espiritismo passei a ser sempre um ouvinte das rodas dos espíritas experientes. Eu os ouvia e nem no meu íntimo os contrariava. Absorvia embevecido todas as suas histórias e minha cabeça ia acumulando o conteúdo daquelas experiências incríveis que relatavam com muita inteligência e simplicidade. Vivi minha juventude aprendendo com os acertos e os erros dos mais velhos.
Hoje sou um homem maduro. Brinco sempre que na minha idade não gosto de ir a museus ou asilos com medo que não me deixem sair. Ficaria muito triste se o Cid Destefani publicasse uma foto minha na sua coluna Nostalgia. Não escondo minha idade e com isso exploro as filas e gozo dos benefícios legais que têm os idosos principalmente nas filas e nos estacionamentos. Sou, pois, um idoso de carteirinha. Apesar disso, ainda dentro de mim aquele trem bala está pronto para partir em velocidade quando eu encontrar uma razão que justifique essa minha ação.
Por ser a Umbanda é uma religião nova, erra quem diz ela não deve sofrer modificações. Quando foi fundada a sua filosofia e ritual foram feitos para aquela época, quando os costumes eram totalmente diferentes, tanto que as esposas obedeciam aos maridos e os jovens viviam sob as saias das mães. Hoje as mulheres estão tomando conta do mundo e os jovens deviam voltar a viver sob as saias das mães.
Hoje não tenho pressa de nada. Vou escrevendo e quem sabe os mais jovens me escutem e plantem a idéia de modificar o que tem que ser modificado. Sei que sou irreverente, mas meus olhos experientes enxergam coisas que os outros não vêem. Não é culpa de ninguém. É fácil enganar os outros, tanto que o Juscelino quando disse que ia construir Brasília para fugir do perigo da capital ser no litoral, o povo acreditou na falácia presidencial. Nunca passou pela idéia do brasileiro que o mandante seresteiro queria era alimentar seu orgulho de ter construído uma cidade, ônus que até hoje estamos pagando. Então não dá para condenar o povo quando acredita nas mentiras que contam sobre a Umbanda.
Vou selecionar a mentira maior: “o Exu é um agente controvertido da Umbanda, que tanto faz o bem como o mal”. Não posso aceitar essa assertiva, mesmo porque ninguém explicou até hoje, ao menos eu desconheço, o que é o Exu em sua essência. Se é um espírito ou um elemental. Infelizmente o povo, como aceitou a razão da construção de Brasilia engole essas teorias antigas e desajustadas à inteligência moderna. Claro que respeito a diversidade da religião e por assim todas as teses, histórias, lendas e afirmações. Mas respeitar, não significa concordar. Todo Exu ou Pomba Gira teve uma ou mais encarnações na vibração de nosso planeta. E como isso é verdade, na minha ótica, eles formam uma linha que tem compromisso com nossa história desde o descobrimento de nosso Brasil. Tiveram nomes, identidades e hoje se escondem atrás de figuras folclóricas para resgatar seus deslizes cometidos. E eles sabem que quando fazem o bem pagam uma conta, mas se fizerem o mal, seu carma cresce. E eles são bons e inteligentes.
Essa é a Minha Opinião!
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