Sr. Omolu e Nanã Burukê Segundo a Lenda
Em tempos antigos, o Pai Fernando ao fazer a abertura e o fechamento das giras, sempre proferia entre outras, as seguintes palavras:
-Em nome das sete linhas da Umbanda e das sete linhas da Quimbanda, declaro aberta(ou encerrada) a gira de hoje.
Sempre quis saber quais seriam as tais linhas da quimbanda, uma vez que as da Umbanda eu já conhecia (Oxalá, Ogum, Oxossi, Xango, Iemanja, Oxum e Iansã). Pesquisei um pouco e num livro antigo (nem lembro qual o título) encontrei: Linha das Almas, cujo chefe é o Sr. Omolu, Linha Nago, Linha Mista, Linha do Cemitério, Linha Mossurubi, Linha Malei e Linha dos Caboclos Quimbandeiros. Com certeza todas elas tem um chefe, mas a que me chamou a atenção foi a linha das Almas exatamente por ter como chefe (segundo a bibliografia) o Sr. Omolu, entidade sempre por nós cultuada e saudada no início das giras de quimbanda. Como muitas perguntas tem surgido sobre o Sr. Omolu, decidi escrever sobre ele, limitado evidentemente aos poucos conhecimentos que tenho sobre esta entidade.
Sr. Omolu ou Obaluaiê como também é conhecido, sendo ele o chefe da Linha das Almas parece-me ser a entidade maior da Quimbanda a serviço da Umbanda. À linha das Almas, pertencem o Sr. Exu Tranca Ruas das Almas, o Sr. Caveirinha, o Sr. Tatá Caveira o Sr. João Caveira e tantos outros, todos subordinados ao Sr. Omolu. Portanto, a esta entidade devemos respeito e obediência. No candomblé O Sr. Omolu e cultuado como Orixá. Alguns terreiros de Umbanda, dentro da diversidade de ritos umbandistas, cultuam o Sr. Omolu também como orixá. Assim, nestes terreiros podem existir filhos de Omolu e nas guias estariam presentes também as pedras do Orixá Omolu. No Pai Maneco, entretanto, Omolu é cultuado como entidade e assim deve permanecer. Apresenta-se no início das giras de quimbanda transformando as energias e preparando o ambiente e a segurança para o trabalho dos Exus.
Os nomes Obaluaiê e Omolu referem-se as fases míticas onde Obaluaiê seria o orixá quando jovem e Omolu o orixá mais velho. Segundo a lenda africana, evidentemente mais aplicada ao candomblé, Obaluaiê é filho de Nanã Burukê e Oxalá tendo nascido coberto de marcas pelo corpo como castigo por Nanã ter seduzido Oxalá mesmo sabendo que ele era marido de Iemanjá. Ao ver o filho coberto de chagas, Nanã o abandonou à beira mar para que a maré cheia o levasse. Iemanjá o encontrou quase morto e tratou-o até que ficasse curado, mas como seu rosto era todo marcado por chagas como as a varíola ele obrigava-se a cobrir-se com palhas ficando visíveis apenas suas pernas e braços. Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto de palhas, escondendo-se das pessoas, taciturno, sério, compenetrado e mau humorado. Certa vez, passando por um povoado sentiu fome e sede e implorou por comida e água. Assustados com a aparência do homem coberto de palha expulsaram-no da aldeia. Dias após o sol queimou as plantações, uma epidemia de varíola surgiu, crianças ficaram doentes e muitas pessoas morreram. Acreditando que o desconhecido coberto de palha teria amaldiçoado o lugar imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca. Atendendo ao pedido Obaluaiê entrou na aldeia fazendo com que todo o mal acabasse. Os homens lhe deram de comer e beber e lhe renderam muitas homenagens. Então Obaluaiê lhes pediu que jamais negassem comida e água a quem quer que fosse, tivesse a aparência que tivesse e seguiu seu caminho.
O Sr. Omolu é sincretizado com São Lázaro e em algumas regiões do Brasil com São Roque. Além de Obaluaiê é também chamado de Sapatá, Xapanã e Babalu. É a entidade da doença e de sua principal consequência, a morte. Taciturno e de difícil trato. Complacente quando o pedido é feito por mães e esposas em favor de maridos ou filhos. É o mais temido de todas as entidades. Não se sensibiliza com o destino de seus seguidores. É um rei disposto que não admite contestações. É a entidade dos cemitérios e tem grande intimidade com os exus. Seu dia: 02 de novembro. Sua cor: preto.
Sua saudação: Atotô Abaluaiê. Sua guia: feita de contas de cristal branco grande intercaladas com contas de porcelana pequenas (10mm para o cristal e 6mm para a porcelana) significando que a luz supera a sombra. Como já falei, no Pai Maneco não cultuamos Omolu como orixá, pois se assim o fizéssemos teríamos filhos de Omolu. Características dos filhos de fé: controvertidos, fechados em si mesmos. As vezes tem picos de alegria, descontração e satisfação, indo de um polo a outro com facilidade e com muita frequência. Gostam de ocultismo e tem tendência para tudo o que é misterioso. Convivem melhor com pessoas idosas. Não gostam de aglomerações preferindo o isolamento. Raramente se abrem a respeito de seus problemas. Amalá para Omolu: chamado de Doburu é feito de pipocas com coco fatiado regado a mel e sem sal, servido em um alguidar de louça branca imaculadamente limpo.
Sobre Nanã Burukê diz a lenda que Olorum (Deus) encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano. Oxalá tentou fazer o homem de ar como ele, mas não deu certo pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer da madeira, mas ficou duro demais. Tentou de pedra mas ficou ainda pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Foi então que Nanã veio em seu socorro e lhe deu a lama, o barro do fundo da lagoa de onde ela morava, a lama sob as águas. Então Oxalá criou o homem, o modelou no barro e com o sopro de Olorum ele caminhou e com a ajuda dos Orixás povoou a terra. Mas um dia o homem tem que morrer e seu corpo retorna à terra, volta à natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no início mas quer de volta no final tudo o que é seu.
Nanã é sincretizada com Santa Ana (mãe de Maria e avó de Jesus Cristo), a mais antiga Santidade do ageológico católico. A mais velha senhora das águas, a mais experiente e amorosa dos Orixás. Ponderada e intransigente, ciosa e possessiva. A deusa da lama. Seu local de entrega: num rio que morre no mar em margens enlameadas pelas variações das marés. Seu dia: 26 de julho. Sua saudação: Salubá Nanã. Sua cor: roxo. Sua guia: feita com contas de porcelana roxa intercaladas com miçangão de cristal branco. Características do filhos de fé: amorosos, egoistas, possessivos, exclusivistas, não admitem dividir suas ideias. Dedicam-se sem reservas a seus amigos e parentes e procuram criar barreiras para que os mesmos encontrem novas amizades e novos caminhos. Rabugentos, jamais esquecem o que lhe fazem. Vestem-se bem e são intransigentes. São ladinos. Sempre acham uma maneira para que outros façam suas coisas. Seu amalá: bolo de milho cozido ou de arroz cremoso colocado sobre folha de mamona ou de bananeira.
Atoto Abaluaiê
Salubá Nanã
Uma vez explicadas as características destas entidades deixemos bem claro que no Terreiro do Pai Maneco, O Sr. Omolu e Nanâ Buruke são cultuados como entidades e não como orixás. Por isso, jamais teremos filhos destes orixás. Por mais que outros terreiros assim o façam, no Pai Maneco continuaremos praticando a Umbanda Pés no Chão e não abrimos mão disso.
Axé
Pai Caco de Xango.
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