Maracatu no Pai Maneco
Ritmo tem lugar certo no Terreiro
por Lálika Stadnik
O Maracatu se espalhou pelo Brasil através do Recife, cidade que foi uma das primeiras a receber esse ritmo. Foram os escravos negros que trouxeram os batuques para cá, encantando ainda mais esse país que ainda naquela época já mostrava sua diversidade cultural. Com a passagem dos anos, o movimento tomou conta dos quatro cantos do país, seja por seu movimento alegre ou atabaques hipnotizantes.
O Terreiro do Pai Maneco, sempre aberto a manifestações culturais, tem um grupo de Maracatu há aproximadamente seis meses. Atualmente, conta com 14 integrantes e seu líder, João Carlos Soto Bello, comanda o pessoal há dois. Confira abaixo a entrevista com o professor e saiba mais sobre esse grande ritmo brasileiro!
Como e onde surgiu o Maracatu?
O Maracatu tem sua origem por volta do século XVIII. Existem várias versões da origem desta manifestação cultural. Se fossemos explicar a sua origem a fundo, daria um jormal inteiro.
Vou tentar simplificar. O Maracatu é como o samba e outros ritmos brasileiro. Sua origem é africana, vem dos rituais dos negros que vieram da África para serem escravos no Brasil. Com o tempo, os negros tiveram espaço para suas manifestações religiosas e culturais. O Maracatu de Pernanbuco é o mais apreciado e difundido pelo Brasil, mas, ele também existe em outros estados de diversas manifestações e formas.
Qual a importância do Maracatu para a Umbanda?
Como toda cultura afro brasileira, a religiosidade está presente. Os baques, como são chamados os toques de Maracatu, são semelhantes aos ritmos tocados pelos atabaques de Candomblé e Umbanda. Porém, há uma diferença de dinâmica e de propósito. Como os atabaques, um tambor vibrando tem poder e energia. Para mim, a alfaia, como é chamado o tambor do maracatu, tem uma vibração cósmica. Sinto isso também quando o som do atabaque toca a gira.
Qual é a importância que o Terreiro do Pai Maneco dá ao Maracatu?
O Maracatu como a Umbanda é um patrimônio cultural brasileiro. Nossa Mãe de Santo Lucília tem uma preocupação com a cultura. O Terreiro do Pai Maneco está se tornando uma grande colméia cultural e isso é muito bom.
Quais são as principais diferenças entre o Maracatu e a Engoma?
Como já disse anteriormente, a maior diferença é o propósito. O Maracatu já teve um propósito mais religioso e ideológoco no seu início. Apesar de algumas Nações, como são chamados os grupos de Maracatu, ainda conservarem estas características, o Maracatu hoje tem características mais festivas e de dança folclórica.
Já a Engoma tem um propósito totalmente religioso. Também posso diferenciar outras caracteristicas como o canto. No Maracatu é chamado de TOADA e serve para puxar um baque. Já na Engoma chamamos o canto de PONTO, que é o fio condutor de todo o ritual na Umbanda.
Os instrumentos de percussão também são diferentes. Os instrumentos usados no Maracatu são a ALFAIA, A CAIXA, O GANZÁ E O GONGUÊ. Já na engoma usamos os atabaques, RUM, RUMPI e LE. Além do GANZÁ, do SURDO e do AGOGÔ.
Quando são os ensaios? São abertos ao público?
Os ensaios acontecem todos os sábados, no Terreiro, das 14h às 16h. O público é sempre bem-vindo para assistir.
Qualquer um pode fazer parte do Maracatu? Existe algum teste ou algo parecido?
Qualquer pessoa pode participar. Porém, este ano, resolvemos limitar o número de participantes para que pudesse haver uma evolução do grupo. No ano que vem, pretendemos ampliar o número de participantes. Não existe teste mas se a pessoa tiver uma noçãozinha de rítimo já ajuda.
O Maracatu como a Umbanda é um patrimônio cultural brasileiro”.
João Soto Bello, coordenador do Maracatu no Terreiro do Pai Maneco.
Um dos grandes divulgadores do Maracatu no Brasil foi Chico Science com da sua banda, Nação Zumbi. Eles foram responsáveis em levar para o Sul do país (são naturais do Recife), este ritmo tão rico. Infelizmente, Chico Science morreu em um trágico acidente de carro, mas deixa como legado dois Cds (Da Lama ao Caos e Afrociberdelia) gravados e o dever de popularizar ainda mais esse ritmo, cumprido.
Você precisa fazer log in para comentar.