ENTREVISTA COM ATANAGILDO – PERGUNTA 1
Outro dia, revirando papéis que me foram confiados para guarda pelo Pai Fernando alguns anos antes de seu desencarne, encontrei dentro de um envelope de papel marrom um pequeno trabalho desenvolvido pelo grupo mediúnico do qual ele participava muitos anos antes de ser Umbandista. Tratava-se de uma entrevista com um espírito de nome Atanagildo realizada em 27/08/1967. A data chamou-me a atenção e resolvi ler o teor do trabalho. Aquilo que pensei ser um “pequeno trabalho” revelou-se como sendo de valor imenso para o esclarecimento e aperfeiçoamento dos médiuns. Fiquei impressionado com a atualidade das considerações ali reveladas e com a possibilidade de aplicar aquele conhecimento dentro do Terreiro do Pai Maneco.
Mas o que mais me impressionou mesmo foi a circunstância em que encontrei este trabalho. No mesmo dia, algumas horas antes, Mâe Lucilia havia me enviado uma entrevista com o Reinaldinho, nosso músico e compositor, autor de diversos pontos cantados no Terreiro, entre eles “Meu Pai Oxalá” e “O Pai de Cabeça”. Utilizando-se de seu tipo característico de mediunidade, a inspiração, o poeta
Reinaldinho escreveu letras lindas e melodias espetaculares as quais também nos inspiram profundamente. Por isso e por toda a sua relação com o Terreiro Pai Maneco ele foi entrevistado e o conteúdo da entrevista foi a mim encaminhado para que fosse publicado no site do Pai Maneco. Entretanto, o texto não estava em forma de perguntas e respostas e eu, como um típico Xango desequilibrado, questionei Mãe Lucília por achar que aquilo não se tratava de uma entrevista, mas sim de uma simples narrativa. Pronto, foi o suficiente. Criou-se um clima horrível, trocamos algumas farpas, discutimos, enfim ficou um “climão”.
Menos de duas horas depois, procurando um documento naquela caixa de papéis que o Pai Fernando havia me dado, surge em minhas mãos o tal envelope com a entrevista com Atanagildo. Fiquei perturbado, perplexo e até emocionado. Foi algo como “-Está bem, já que você quer uma entrevista, esta aí uma entrevista. Use”. Hoje resolvi usar. Ao longo das próximas semanas, publicaremos uma pergunta e a resposta do Irmão Atanagildo. Daremos este espaço de tempo para que os médiuns possam refletir e assimilar a pureza e a profundidade dos temas, algo que só poderia mesmo vir de um espírito superior. Peço que os médiuns leiam e pensem sobre o assunto procurando, pelo menos em parte, colocar em prática os ensinamentos ali descritos. Faremos alguns comentários onde julgarmos necessário, sem querermos de forma alguma nos compararmos ao entrevistado, mas apenas para fazermos um paralelo entre o que alí está escrito e o que vemos na prática com nossos médiuns Umbandistas do Terreiro Pai Maneco.
Muito Axé para todos.
Pai Caco de Xangô
Pergunta 1 – Tratando-se de um grupo que já tem algum conhecimento sobre os problemas espirituais, buscando algo que foge dos ensinamentos dos livros comuns, perguntamos se a NÃO prática da assistência social poderia afetar o desenvolvimento mediúnico do grupo? E ainda, dependeria o desenvolvimento mediúnico da assistência social?
Atanagildo – O desenvolvimento mediúnico não depende de iniciativas de assistência social, mas de disciplina, estudo, sacrifício e paciência. A mediunidade é comum a todos os seres, assim como as quedas d´água nascem em todos os lugares. Mas assim como a cachoeira só beneficia movimentando as turbinas da Usina, a mediunidade só é útil disciplinada, cultivada e orientada para determinado fim proveitoso. Como base de todos os fenômenos da vida, incluso a mediunidade, é a mente, então é preciso saber o tipo de onda mental que cultivamos e ajuizar a direção do nosso labor.
O desenvolvimento é um processo de controle interior do espírito enquanto a assistência social é uma dependência das nossas reservas morais buscando revelar-se na ventura alheia. Por isso, não há vínculo entre desenvolver a mediunidade e programar obras assistenciais, pois uma coisa é bem distinta da outra.
Pai Caco – Muito esclarecedora a resposta do Irmão Atanagildo, desvinculando a distribuição de comida aos necessitados, a coleta e distribuição de roupas nas campanhas do agasalho ou a ajuda aos desabrigados vítimas de enchentes mediante a distribuição de alimentos e medicamentos, do desenvolvimento mediúnico. Muitos médiuns imaginam que ser solidário e participativo no auxílio àqueles que necessitam pode auxiliar no desenvolvimento mediúnico, o que não é verdade. A mediunidade é um compromisso assumido ainda no período pré-reencarnatório e um dom que nasce com a pessoa e aflorará em determinado momento da vida sendo que o seu desenvolvimento dependerá de outros fatores, que não a prática da assistência social. Que fatores são estes? Atanagildo também nós esclarece: DISCIPLINA, ESTUDO, PACIÊNCIA E SACRIFÍCIO. Quatro palavras fáceis de compreender, mas muito difíceis de se praticar. Pense nisso. Apenas quatro palavras separam um médium iniciante de um médium desenvolvido.
Perceba também, que Atanagildo não deprecia os trabalhos de assistência social, ao contrário, consagra-os como de grande valia ao dizer: – “a assistência social é uma dependência das nossas reservas morais buscando revelar-se na ventura alheia”, ou seja, o senso de solidariedade presente em alguns para benefício de outros.
Atanagildo ainda ressalta como fundamental para o desenvolvimento da mediunidade “a onda mental que cultivamos” o que significa que bons pensamentos conquistam e aproximam bons espíritos e não pode haver desenvolvimento mediúnico sem a participação de espíritos elevados. Portanto, importantíssimo é vigiarmos nossas mentes e ao percebermos o menor traço de pensamento inferior, cortarmos imediatamente não abrindo espaço assim para a assimilação de energias indesejadas. Simples demais, não é mesmo: igual atrai igual. Isso foi o que aconteceu comigo quando encontrei a “Entrevista com Atanagildo” naquele envelope de papel marrom, algo como: – Acaba com esse clima ai que não vai te fazer bem! Salve os grandes amigos espirituais que se manifestam quando nos descuidamos e permitimos em nossos pensamentos sentimentos inferiores. Salve aqueles que zelam por nós. Grato por merecer este cuidado.
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