Um ano recheado de histórias e aprendizado!
por Bruna Cabral
Confesso que pensei muito antes de escrever esta história… Afinal, com um ano de corrente o que eu teria para falar né? Talvez para os mais velhos quase nada de novo. Mas acho que para os novos, pode ser interessante…
Comecei a frequentar o TPM em 2009, quando depois de aproximadamente 6 anos sem nenhuma visão de um “amigo” que costumava frequentar a minha casa, ele voltou a aparecer. Neste dia, ele foi para me defender de uma “coisa” estranha, intrusa no meu quarto. Fui até o terreiro com o intuito de afastá-lo, afinal, não queria ter que voltar a conviver com ele, nem com nenhum outro espírito maluco, nunca gostei disso. Não sei até hoje quem é este amigo, mas me garantiram que ele é um protetor e acredito mesmo. Depois da conversa com as entidades e afastada a hipótese deste espírito querer algo de mal para mim, comecei a frequentar mais as giras de segunda. Até perdi o medo de rever este espírito e inclusive pedi desculpas por não conseguir entendê-lo.
Em 2012 o meu companheiro, do nada, decidiu entrar para a corrente, e eu, católica de criação, achei tudo muito estranho. Já havia comentado com ele sobre meu interesse de um dia participar da corrente, mas não achei que ele sairia na frente, rs. Já que o acompanhava toda segunda mesmo, decidi começar a assinar a ficha de frequência, fiz os cursos e quando abriu a vaga, fui convidada a vir de branco. Já sabia que meu pai de cabeça era Ogum, tirado pelo Pai Fernando em 2009 mesmo. Lembro até hoje… Eu mal tinha chegado próximo a mesinha e ele já me olhou nos olhos e gritou “Ogum”. Pensei comigo “estou com este casaco vermelho, deve ter chamado atenção”, rs. Começaram a cantar “Se meu pai é Ogum…” Não deu tempo nem de terminar a primeira frase e ele já gritou “Saravá a filha de Ogum”. Assim?? Rápido?? Rsrs…
Voltando a 2012: entrei para a corrente… Ah que empolgação! Que medo! Lá de fora é tão fácil e aqui dentro é um tal de se ajoelha, beija mão, levanta, bate palma, bate cabeça, saravá!!!
Já no primeiro dia de corrente comecei a cambonear o Victor Hugo e fiquei ali com ele em novembro e dezembro. As entidades dele e ele foram muito bacanas! Tiveram muita, muita, muita paciência e aprendi como receber os consulentes e como participar das consultas. As entidades me mostravam o trabalho que estava acontecendo na tábua, quando os consulentes levantavam eles me explicavam o que aconteceu no decorrer da consulta e o principal: cada um tem a sua dor. Estamos aqui para ajudar a pessoa a sair melhor do que entrou.
Com a chegada das “férias do terreiro”, eu e o namorado fomos viajar e no caminho fomos escutando o Áudio book do Grifos do Passado, livro do Pai Fernando. Que lição hein…
Na volta das férias do terreiro pensei: agora quero cambonear uma entidade cada dia! Falei com o Victor e ele concordou. Fiz isso por 2 ou 3 giras quando me aparece o Pai Caco perguntando se eu sabia de alguém para cambonear as entidades dele… Olhei para cima e disse “eu!”. Meu Deus… Lembro até hoje como tremia na hora que chegou seu Tucuaré Petit e eu mal conseguia acender as velas! Hahaha… E quando chegou o dia do Seu Veludo vir então… Como que eu coloco essa capa?? E esse cumprimento?? Ele pediu que eu acendesse o seu charuto e não sei como, mas eu fiz um furo no charuto, ele tirou sarro de mim a gira toda, dizendo a cada consulente que ele estava tocando flauta… rs.
Os dias foram passando e eu fui aprendendo, continuo aprendendo muito, tanto com as entidades quanto com a minha querida Mãe Lucília.
Certo dia os amigos da corrente comentaram comigo que eu deveria participar da gira dos bichos. Eu respondi rindo “escuta, eu nem incorporo nada, como vou trabalhar?” O Marcão já respondeu no ato “ajudando ora! Sempre tem o que fazer!” Pensei tá bom, vamos ver como é. Obviamente fiquei só de olho né, pra ser sincera ainda não tenho certeza de nenhuma incorporação… Sinto vibração, sinto uma energia MALUCA tomando conta de mim… mas ainda não sei como responder por isso. Mas um belo dia eu recebi, acredito eu, uma pretinha fofa para trabalhar na gira dos bichos (Marcão tinha razão, essa gira era uma boa!). Foi muito bacana! E no mês seguinte estava eu lá, preparada para trabalhar com a pretinha de novo. Senti uma vibração tremenda na linha de caboclo mas pensei “deve ser a pretinha chegando” hahaha… resumindo: não entendi nada e fiquei decepcionada né, afinal, que tinha acontecido? Mandei e-mail para Mãe Lucília falando que eu precisava estudar mais, que mesmo com o conhecimento que eu estava tendo com as entidades do Caco eu achava que precisava de mais. Depois de uma troca de e-mail ela me faz a pergunta fatídica: “tá, mas qual é a tua dúvida?” Rs. Expliquei a situação da gira dos bichos para ela e a resposta veio: “Umbanda não tem script, Bruna!”. Isso soou como música nos meus ouvidos… Que simples! Com toda calma de uma mãe mesmo, cada e-mail que trocávamos eu me sentia mais aliviada. Hoje continuo indo na gira dos bichos sem esperar nada e inclusive estou desde este dia sem incorporar nada, sem apressar nada, afinal não quero fazer besteira né, tudo a seu tempo…
Camboneando as entidades do Caco, cada dia saio da gira melhor! O Pai João, por exemplo, é uma entidade com quem eu gostaria de conversar todos os dias! Não desdenhando as outras, Maleime, mas o Pai João me inspira com suas histórias. Seu Tucuaré quando chega, vem com umas também que parece um puxão de orelha, mas descobri que é uma sabedoria linda que ele precisa compartilhar com a gente. Ele já me falou sobre a importância de carregar a umbanda na sua vida e não a sua vida na umbanda, ir com calma, saber apreciar cada momento, com fé, mas sem exageros. E ontem mais uma vez, se sentou ao meu lado, riscou seu ponto, acendeu seu charuto e começou: “sabe Bruna, as vezes a gente vai passear e, de repente se depara com uma paisagem. Você vê como aquela paisagem é linda, fica admirando, se emociona, e se você nunca passou por ali, naquele momento, não importa onde você está, você aprecia o momento, a paisagem. Assim é com a Umbanda. Aprecie cada momento e vislumbre cada entidade como uma paisagem. O que ela te passa, a sensação daquele momento é o que vale, o que ela faz por você e pelos outros. Depois a gente procura saber, que lugar era aquele, ou, o nome da entidade!” Me emociona…
Bom, com este texto gigantesco (falo pouco) a mensagem que quero passar é que me sinto cada dia mais feliz dentro do TPM, mais certa de que tudo acontece na hora certa, não na nossa, mas na hora que TEM que acontecer. Pai João me disse esses dias: “o dia que a filha quiser ir trabalhar, é só falar, as entidades dispensam você. Você também tem que desenvolver”. Respondi com um certo alivio: “meu Pai, prefiro que o senhor me diga quando acha que eu estou pronta, pois acho que ainda não estou!” Ele riu e pediu que eu não jogasse a responsabilidade para ele, mas ambos sabemos que ainda não é hora. Perdi o medo de cambonear e servir, mas acredito que ainda tenho MUITO o que aprender e entender sobre as incorporações, tudo no tempo certo né.
Acredito e confio nos trabalhos que estamos fazendo e me emociono sempre que um consulente na saída me olha nos olhos e me abraça com aquela certeza que vai dar tudo certo. E principalmente, a cada volta deles vindo dizer apenas: “meu pai, hoje eu só vim para agradecer!”
Saravá ao Terreiro Pai Maneco
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