Mãe Tiana, presente do Sr. Fernando
por Cris Bresser
Quando eu comecei a frequentar o Terreiro do Pai Maneco, na época ainda numa sala ampla da Faculdade Espírita, já era “cavalo”, mas havia me afastado da Umbanda.
Incorporei um espírito a primeira vez com 19 anos, num terreiro pequeno mas muito sério, onde minha mãe e meus tios trabalhavam. Logo comecei a fazer parte da corrente e pouco depois trabalhava com Erê – Zezinho da Praia, Pombagira Luísa, caboclos e uma preta velha que nunca mais vou lembrar o nome…
Aquele Pai de Santo faleceu, a corrente se desfez, acabei me acomodando.
Comecei a frequentar o Terreiro do Pai Maneco porque, como dizia Seu Fernando, “a água bateu na bunda”. Frequentei as aulas da Mãe Jô – na época, Capitã Jô e eram 21 aulas antes do Amaci – e logo fui incorporada à corrente do Sr. Fernando. Naquele tempo havia apenas uma gira, às segundas-feiras.
Junto às entidades que eu já incorporava, veio cigana, veio boiadeiro, mas não sei porque, a preta-velha que eu incorporava antes, não descia mais…Eu não entendia.
E então, já no terreiro “novo” no Santa Cândida, numa gira de Preto-Velhos incorporei uma nega sorridente, roliça, cheia de graça. Desceu dançando e já foi logo dizendo se chamar Tiana, com T, viu? E mostrava com a mão o T….
A Lucília a cumprimentou com carinho, o Éder, na época Capitão, veio saudá-la com deferência e o Lolô abriu o maior sorriso para ela. E eu, sem entender nada…
Ela foi cumprimentar o Pai Maneco, que a abraçou e disse: ¬ Senta lá no toco, véia, que o meu cavalo já vai conversar contigo. Aí então eu pensei:”Ai Meu Deus, eu devo estar fazendo alguma coisa errada, vou tomar uma bronca do Seu Fernando”. E a Mãe Tiana só riu. Sentou no toco, a cambone começou a atendê-la, ela riscou ponto e Seu Fernando se sentou na minha/nossa frente. Eu esperei, ele falou para ela: Seja bem-vinda à minha casa, Tiana. E ela, bem faceira e muito à vontade: Obrigada, FERNANDO, você está fazendo um trabalho muito bonito aqui, meus parabéns!
Ele beijou as mãos dela e se despediram. Ela atendeu os consulentes e na hora certa, subiu. Eu passei semanas confusa com o ocorrido. Tomei coragem e fui atrás da Lucília; perguntar o que havia acontecido, um vez que eu não tinha entendido nada.
A Lucília então me explicou: Ela, o Seu Fernando e mais alguns médiuns da nossa corrente há alguns meses haviam visitado o terreiro da dona Zulméia, filha do Sr. Zélio de Moraes- fundador da Umbanda, em Niterói. A Dona Zulméia recebia uma preta-velha chamada Tiana, que na ocasião prometeu ao Seu Fernando que viria trabalhar na casa dele também, em Curitiba. E então ela veio!
Na segunda vez que ela baixou no terreiro, ela cantou junto com o Éder seu ponto de chamada:
“Tiana chegou aqui neste congá
E veio com ordens para trabalhar
Tiana trabalha para os filhos seus
E vence demanda com a graça de Deus!”
Porque me escolheu como cavalo? Acho que só vou saber quando desencarnar…a única correlação que faço é que quando eu era bem pequena, morei anos em Niterói…
O que eu sei de fato é que qualquer que tenha sido o motivo dela ter me escolhido como cavalo, tenho certeza que me foi um presente dado pelo Sr. Fernando.
Hoje em dia ela tem mais um “cavalo” no terreiro: meu amigo João Emerson, de quem gostei logo de cara, muito antes de saber que ambos dividíamos a honra de sermos cavalos de uma entidade tão amorosa e alegre, ao mesmo tempo forte e humilde!
Saravá, Mãe Tiana!
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