O Indio em seu Cavalo
… “ Era uma segunda-feira como tantas outras que a rotina era a mesma, acordar mais cedo do que o habitual, sair correndo de casa sem tomar café e enfrentar o trânsito para trabalhar… Levei meu namorado ao trabalho e fui ao meu…E no caminho pro meu, tantas coisas para pensar, organizar, a semana seria intensa mas… Uma sensação estranha, dolorida, que me machucava o peito, uma vontade de baixar a cabeça e desistir foi tendo mais peso que o início da semana… Algo que não sabia ao certo distinguir o que era… mas sabia que aquilo não era meu, aquela sensação é muito diferente de mim, então não era minha!!
Me apertava o peito no caminho até o trabalho e então com o som desligado do carro, cantei o ponto do Seu Sete Ponteiras do Mar, um ponto que; toda vez que ouço e canto, sinto vontade de chorar… mas um chorar de alegria, de gratidão, porque eu acho esse ponto lindo e quando canto, as cenas desse ponto se formam na minha cabeça, enfim… E na cabeça veio, junto com as palavras do ponto, uma imagem que vi desde a primeira vez que fui a gira de segunda, quando a mãe de santo, permite a incorporação… lá vem ele na minha cabeça de novo; aquele índio montado num cavalo desgovernado, um índio grande e forte, de pele grossa e queimada do sol eu acho, tentando segurar aquele cavalo a qualquer custo, um cavalo mais forte ainda de uma determinação inexplicável… A sensação que tenho é que aquele índio não vai conseguir segurar aquele cavalo, porque vem fortemente sabendo o que vai fazer… Sim e ele sabe, ele traz um homem enorme, de uns 2 ou 3 metros de altura, não consigo ver da cintura pra baixo com tanta nitidez mas ele se apresenta com um cocar na cabeça que acompanha seu corpo todo, com penas tão grandes quanto ele, todos as penas nos tons de azul estavam ali, um azul forte, azul claro quase roxo, gostoso de se ver, pregadas com firmeza naquele cocar, colocado naquela cabeça sem que qualquer tempestade pudesse tirá-lo do lugar… Sim, é ele que mais uma vez vai se formando na minha cabeça, no meu pensamento no meio daquele trânsito onde todas as pessoas estão ligeiramente preocupadas pra chegar a tempo em suas obrigações… Lá vem ele…
Pra ser sincera, nem percebi o trânsito, as buzinas, os ônibus lotados, as pessoas correndo para não se atrasar, o engarrafamento na BR… Porque aquela imagem se formava cada vez mais com tal nitidez… Quando estacionei o carro no meu trabalho, desci e como de costume, me benzi, beijei minha guia de proteção, bati no peito e entrei com o pé direito na empresa que trabalho… Do lado direito da porta de entrada… Aquela figura que rondava os meus pensamentos, estava ali… materializado! De braços cruzados… A primeira coisa que pensei: Será que todo mundo tá vendo o que eu vejo?!
Mas não! Os funcionários entravam para trabalhar sem o menor espanto e realmente não estavam vendo ninguém… Aquilo era um presente pra mim… E com uma voz grossa e cheia de amor ele disse: 7 velas, filha!
E a sensação de peito apertado ficou pelo caminho e se dissolveu num lugar que nem vi ficar pra tras… “
… Ainda com muitas perguntas, muitas dúvidas e uma vida toda para aprender, agradeço esse momento, um momento meu e que com certeza em palavras jamais saberia descrever efetivamente o que senti… Como a Umbanda é paz e amor, quero dividir esse momento com quem puder ler… Um momento de amor e uma sensação incrível de paz… Saravá!
Jaqueline Ferrari
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