Trabalho de Mata 5
Já faz quase duas semanas desde o trabalho de mata. Já deu pra digerir bem
tudo que aconteceu e assimilar tudo o que foi visto, ouvido e aprendido. Tudo
não, quase tudo. Ainda tem muita coisa que ainda está na caixinha do
“nossa, que surpreendente!”, onde ficam as coisas que me espantam e me fazem
querer sempre mais aprender e viver a Umbanda.
Pois bem…
O trabalho começou com os trinta minutos sentindo as energias. Fiquei muito
nervosa, pois não estava sentindo muita coisa nos pontos de Ogum, meu pai de
cabeça,mas estava vibrando muito nos pontos de Oxóssi e Xangô. Mas me
acalmei e tentei escutar a energia, entrar na vibração e dar espaço para o
pai de cabeça chegar…
Começaram a descer as entidades dos pais e mães de santo.
Seu Folha Verde. Chorei emocionada com a maneira como ele chegou. O caboclo
que trabalha com mãe Rita (seu Guará, né?), chorei mais um pouco. Seu Pena
Branca, seu Cariri, seu Tucuruvu, seu Pedra Roxa. Chorei cada vez mais em
cada um deles. Estava numa energia tão bonita e gostosa que a chegada de
cada um desses caboclos me emocionou com uma força incrível.
Quando começou a tocar pontos de Ogum, me concentrei na energia. Normalmente
eu canto junto, a plenos pulmões, mas nessa hora escolhi me concentrar o
máximo possível.
Quem me conhece sabe o turbilhão de pensamentos que é minha mente e quão
difícil é eu focar em algo HAHAHA
E lá estava eu tentando calar a mente… Não sei em que ponto comecei a
vibrar. Estava finalmente sentindo todo meu corpo reagindo, aquela sensação
da presença de alguém grande e forte do meu lado, e as mãos se movendo
sozinhas…
O primeiro passo à frente foi como se eu estivesse reaprendendo a andar, uma
sensação de que eu iria desequilibrar e cair a qualquer momento. E ele
começou a girar. O terreno úmido e instável, super escorregadio, meu
receio de esbarrar e machucar alguém, sentindo a presença das pessoas ao
meu redor muito próximas… E ele me mantendo firme, desviando um por um,
guerreiro forte e confiante, de passo certo.
Me emocionei muito, acredito que se desincorporasse ali, naquela hora, iria
desabar em lágrimas de amor.
E ele continuou me levando, cumprimentando aqueles da hierarquia que
encontrava, cumprimentando a engoma, saudando a todos com uma energia
deliciosa.
Confesso que fiquei super triste a hora que tocou o ponto de subida, pois
estava me sentindo no céu. Ele não quis falar com ninguém, não quis
riscar ponto, não quis dar nome, nada… Só cuidou de mim, e como eu me
senti cuidada!
Quando ajoelhei sem dó da calça branca no barro molhado e bati cabeça
depois que ele subiu eu só conseguia sentir gratidão.
Por saber que tenho um pai de cabeça, por poder servir de instrumento de
trabalho para que seja feito o bem, pela corrente, linda e imensa de amor e
trabalho, pela madrinha de amaci que estava me observando e prestando
atenção em tudo enquanto eu passava sentindo a vibração e depois quando
ele veio. (no ponto de Ogum Beira Rio, de acordo com ela) Pelos pais e mães
de santo maravilhosos que temos no Terreiro, principalmente mãe Denise, e
pelos amigos irmãos que estavam comigo.
No meio de tanta coisa linda teve mosquito? Teve. Aranha (morro de medo)
andando no chão e subindo no meu pé? Teve. Barro que nunca mais saiu da
calça? Teve. Espinho no pé? Teve. E tudo isso foi um grão de poeira perto
da imensa felicidade que foi participar dessa gira tão linda e cheia de
sentimento que foi o trabalho de mata.
E gostaria de deixar também um agradecimento especial à engoma, pois não
só a música estava linda, mas pelo amor que eles dedicaram a todos nós
através da voz e instrumentos.
Saravá!
Patricia Valduga, Gira de Sábado
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